domingo, 3 de outubro de 2010

O CONSUMIDOR BRASILEIRO

Ah, que saudades que tenho! E quantas lembranças dos bons tempos que já se foram! Sinto saudades de tudo, tempos em que a gente comprava bens duráveis e eram duráveis de verdade! Compravam-se toca-discos, toca-fitas ou um simples radinho de pilhas e usava por trinta anos ou até mais!

Vale lembrar, também, que o bem maior que é o ser humano aos poucos vai perdendo os seus valores, os laços afetivos com o seu semelhante, com os seus familiares. Os relacionamentos atuais parecem que são bens de consumo e descartáveis.

Porém, tudo está mudado! Nem mesmo sei até que ponto, o avanço da ciência, do progresso e da tecnologia trouxeram para nós bons resultados. E por falar em consumo, percebe-se que qualquer mercadoria que se compra, pode ser um eletro-eletrônico, um eletro-doméstico, que era para ser um bem durável, já não é mais! Estraga rapidinho. A exemplo dos relacionamentos modernos que não duram muito tempo. Atualmente, no meio social, chega a ser careta um casal comentar que tem vinte anos de casados. Um produto lançado este ano, no ano que vem, já sai do mercado e não tem conserto, por falta de reposição de peças. Isso dá a nítida impressão que, hoje em dia, tudo é descartável. Daí é que o consumidor percebe que “deu com os burros n’água”; é o mesmo que “comprar porcos na lama”. E não adianta “chorar a morte da bezerra”, pois não tem PROCON, não tem justiça... enfim, não há nada que dá jeito.

Falando em bens de consumo, não há quem defenda o consumidor, principalmente se já tiver passado o período da garantia da compra que, na maioria das vezes, tem um prazo muito exíguo.

E o consumidor brasileiro vai “comprando gato por lebre” e impulsionado, pelas propagandas das grandes mídias, continua “caindo como patinho”; ora afogado nos cartões de créditos, ora mergulhado nas desilusões amorosas e, na maioria das vezes, enforcado no cheque especial. E o que é pior – não tem quem o defenda.

A única coisa que lhe resta: é “ficar com a cara de tacho” e manter viva a esperança de que um dia encontre a verdadeira cidadania e, por outro lado, esperar que as coisas possam melhorar nesse país de mercenários; pois, “quem espera sempre alcança.

“Quem viver verá”. Este é o mundo globalizado do homem civilizado que está sempre em busca de sucesso e de atingir seus objetivos – seja profissional, patrimonial ou afetivo. Entretanto, quando é bem sucedido, nunca está feliz com suas conquistas. Está sempre em busca de mais! Muito mais! Por isso, é muito difícil alguém dizer: eu sou uma pessoa completamente realizada.

Antonio Paulo Ribeiro – FO/UFG

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O MAIS HUMANO POSSÍVEL

Se você não puder entender o outro
Aceite o direito à diferença como condição humana
E seja um cidadão que respeite a diversidade dos que estão a sua volta...

Se não puder ser um líder no trabalho,
Seja um colega prestativo
E passe confiança aos que compartilham o dia com você.

Se não puder ser um pai, uma mãe ou um companheiro compreensivo,
Seja apenas alguém
Que ame incondicionalmente.
Se não puder ser justo,
Siga seu coração e perdoe-se por isso
Mas seja o mais humano possível!

Danyelle Nery Ramos – DDRH/UFG

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A VIDA

A vida é o presente que ganhamos para desfrutar em conjunto.

Quando se vê, estamos procurando o outro...

Quando se vê, o outro se foi e não percebemos que ele estava ali, ao nosso lado.

Quando se vê, outros estão chegando e partindo de novo...

Quando se vê, ainda não alcançamos ninguém... Nem a nós mesmos...

Agora é tarde para voltar ao início.

Mas novos dias virão e não olharei para trás.

Seguirei em frente e jogarei pelo caminho pétalas de compreensão e de coragem.

Desse modo, reflito: não deixemos que a vida passe em vão e com ela o que é significativo.

Não há garantias, mas sempre há oportunidades fugazes, arriscadas, únicas.

(Paráfrase a partir do Poema de Mário Quintana – O tempo)

DanyelLe Nery Ramos - DDRH/UFG

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Imaginação é grande

A imaginação é grande e cabe

nesta janela sobre o luar.

O luar é grande e cabe

na relva e no chão do meu lar.

O meu lar é grande e cabe

no breve tempo de imaginar.
 
(Paráfrase de "O mundo é grande", de Drummod)
 
Luiz Lacerda Santos Júnior - HC/UFG

A VISITA

Ontem o Carlão - amigo de infãncia - resolveu dar as caras.
- Como vai Luizinho, tudo bem?

- Estou ótimo! Foi fácil achar a casa?

- Cara, foi dificílimo! "Fiz das tripas coração" para achar, mas como se diz, "quem tem boca vaia Roma", então, consegui chegar.

- Vamos, entre, seu quarto já está arrumado.

Ele acomodou-se. E fomos colocar a conversa em dia. Quando "caiu a ficha", nós tinhamos conversado cerca de cinco horas.

Existe um ditado que fala: "Quem semeia vento colhe tempestade". Eu acredito que quem semeia amizade colhe bons momentos.

Luiz Lacerda Santos Júnior - HC/UFG

MANÉ VENDE SONHOS

Mané veio do interior com sua mulher Maria e a filharada. Ele já trabalhava, há um ano, na Encol como servente de pedreiro.

Com a falência da construtora, Mané perdeu o seu ganha pão, o da sua mulher e da numerosa prole.

Desempregado, Mané bateu de porta em porta das firmas à procura de serviço. Depois de muita peregrinação, cansou e desistiu.

Como Maria fazia umas quitandas, ele teve uma ideia: a esposa fabricava sonhos e ele iria vendê-los nas ruas da capital.

Assim, ficou combinado e Maria fabricou os primeiros sonhos e Mané saiu pelas ruas de Goiânia oferecendo. No primeiro dia, ele vendeu todos os sonhos e conseguiu levar a realização para casa.

No segundo dia, Mané preparou a sua bandeja de sonhos e ganhou as ruas. Ficou parado na Praça do Bandeirante oferecendo o produto: olha o sonho, mate aqui a sua fome, compre sonhos! Não demorou muito e Mané viu um corre-corre de ambulantes com a senha: “corre, lá vem o rapa”! Mané não conhecia a dura realidade de quem ganhava a vida nas ruas e continuou tentando vender seus sonhos. Logo, chegaram os fiscais da prefeitura, acompanhados dos guardas municipais, tomaram a bandeja de sonhos de Mané e levaram.

Mané não entendeu a brutalidade dos fiscais e voltou para casa desolado. Ele não sabia que era proibido vender sonhos nos logradouros públicos.

No terceiro dia, ele voltou com o objetivo de vender seus sonhos. Mas já sabia que era proibido vender sonhos nas ruas e ficou atento. Quando ele ouviu a senha: “Lá vem o rapa”, cuidou de correr com seus sonhos, pois dessa venda, dependia a sobrevivência dele, da sua mulher e da filharada.

Geraldo Pereira dos Santos - MUSEU/UFG



Penso, logo...

Começa tudo de novo. Dormimos e acordamos e nem nos damos conta (às vezes) dos lugares por onde passamos, das pessoas que conhecemos e por que é mesmo que estamos aqui. Pensando tanto nisso tenho tido delírios de loucura, depressão e indagação profunda. Sinto-me estranha. Vivo questionando os motivos por que acordamos e nos movimentamos neste mundo. Teremos nós algum destino? Há algum significado oculto na nossa existência? Pensar é transgredir, segundo Lya Luft, famosa escritora gaúcha, mas ultimamente só tenho pensado e pensado. Às vezes, sinto-me privilegiada; noutras, ao contrário, covarde que segue sua vida pensando, e o pensamento, por mais sublime que seja, não muda, efetivamente, nada. É chegada a hora de transgredir. Transgredir = violar, infringir, desobedecer, mudar a ordem das coisas. Mas, a quantas pessoas atingimos com as nossa pequenas transgressões? Mesmo que sejam muito nossas, muito particulares. Quantas pessoas serão prejudicadas? Quantas serão beneficiadas? Haverá algum benefício? Não sei, ainda estou pensando. Lembra-te?! Aviso quando for transgredir.

Daniela Robalo Dias - FEN/UFG

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

QUEM SOU EU?

01 ano: aprendi que eu era meu corpo. Podia me mover pra lá e pra cá, coçar meu rosto e chorar, pra que alguém matasse minha fome.

02 anos: aprendi que eu não era meu corpo, eu era sentimentos. Tinha coisas que eram agradáveis e desagradáveis, existiam gostos bons e ruins, doces e amargos. E essas coisas eram sensações que meu corpo me dizia. Então eu não era meu corpo, eu era sentimento!

04 anos: aprendi que eu não era sentimentos, eu era mente. Eu não precisava ver um cachorro pra saber que ele existia. Bastava imaginar. E imaginar coisas boas me fazia me sentir bem, imaginar coisas ruins me deixava mal. Então eu não era sentimento, eu era mente!

10 anos: aprendi que eu não era mente, eu era um ser social. Além de raciocinar, eu tinha um papel. Eu era um estudante, filho dos meus pais – esse era meu mundo. Eu tinha um papel na sociedade, e tinha que cumprí-lo.

14 anos: aprendi que o meu papel na sociedade era limitante. Eu seria um corintiano, mas pra isso eu tinha que odiar palmeirenses. Mas eu não odeio palmeirenses! Então, se não sou um corintiano, quem sou eu? Comecei a perceber que esses grupos sempre têm falhas, e que eu, por ser capaz de percebê-las, tinha a obrigação de consertá-las.

18 anos: na faculdade aprendi que não adiantava consertar nada. Primeiro, porque não existe cultura certa e cultura errada. Elas simplesmente eram diferentes e eu tinha que respeitá-las.

21 anos: aprendi que, novamente, minha ideia estava incompleta. Realmente não existe certo e errado. Mas existe melhor e pior, e negar isso era um erro. Existem culturas que permitem as pessoas serem mais felizes e outras menos.

27 anos: aprendi que eu também não sou somente um ser social. Eu não sou mente. Eu pareço ser apenas um observador da realidade, e meu corpo, meus sentimentos, minha mente, meu papel na sociedade, nada disso me define completamente. Então, quem sou eu? O que somos nós? Será que um dia vou descobrir?

Gustavo Souto de Sá e Souza - EEEC/UFG

DEVANEIOS

Mateus nunca foi de questionar as ordens dos pais. Eles planejaram para ele um futuro perfeitinho: escolas particulares desde a infância, passou em uma faculdade federal renomada, e no próximo ano estaria formado, pronto para encarar o mundo. Tudo isso o preparou muito bem para ganhar dinheiro, e isso é o importante, não é? Afinal, “quando o dinheiro fala, tudo cala”.

Ele estagia na maior empresa de bebidas do país e tem emprego garantido assim que se formar. O rapaz prefere não pensar que trabalha numa empresa responsável por produzir as drogas que matam milhares de pessoas no trânsito e acabam com famílias pelo vício. “De pensar, morreu um burro” – dizia seu avô e, nesse caso, Mateus preferia concordar.

Agora, a um ano de se formar, percebe que lhe disseram tudo o que deveria fazer a vida inteira, até aquele ponto. Ele deveria estudar, se formar e arranjar um emprego. Mas e depois? Ninguém disse nada sobre isso. A que ele vai se dedicar? O que ele realmente gosta? Vai se tornar um presidente de uma multinacional? Qual a emoção nisso?

“De pequenino é que se torce o pepino”, os pais dele diziam. Ele gostava de tocar guitarra, mas seus pais nunca o incentivaram, porque isso não proveria sustento. Ele gostava de pintar também. E de escrever. Mas nada disso passou pelo crivo rígido dos pais, e foi jogado às traças. Agora, Mateus não tem amor por seu emprego, não tem amor por dinheiro, não tem amor por viver a vida que foi planejada por outras pessoas.

Mateus tem medo do que está por vir, da vida que vai continuar vivendo. Daqui um ano ele vai estar livre de suas obrigações com seus pais e pensa seriamente em se formar e viajar para a Austrália, acampar, viver um pouco, escrever e aprender a tocar guitarra. Hoje, ele já sabe como se sustentar muito bem; então, se sente mais preparado para encarar essa aventura. Mais difícil será encarar seus pais.

Mas se não fossem eles, ele não se sentiria tão pronto assim. Se não tivesse passado por tudo o que passou, não teria esse forte ímpeto de viver a vida de verdade como ele bem deseja. Dizem que “para bom mestre não há ferramenta”. Será que isso tudo não foi planejado pelos seus pais? Toda a rigidez seria para ele aprender a dar valor ao que é dele? Bem, “a esperança é a última que morre”!

Gustavo Souto de Sá e Souza - EEEC/UFG

QUE SITUAÇÃO!

O atual momento que está vivendo o Goiás Esporte Clube, é de deixar a grande massa esmeraldina, a maior torcida do centro-oeste brasileiro, com "cara de tacho", porque, por mais que tente, a equipe não consegue "tirar o pé da lama". Quem apostava que, este ano, o Goiás pudesse até ser campeão brasileiro, "deu com os burros n'agua", pois a equipe, até agora, só nos envergonha e é a lanterninha da competição. "Pelo andar da carruagem", esta será a tendência até o final do brasileirão! (02/09/2010).

Antonio Paulino Ferreira - TRANS-HC/UFG

Meu último inverno

Oh! Que saudades que tenho
Do derradeiro inverno,
Que as estações não trazem mais!
Que brisa, que frio,
Naquelas manhãs nubladas,
Acompanhado de um bom filme,
Debaixo do cobertor!

As tardes eram pacatas,
As noites congelantes,
Que chegavam a quatro graus.
As roupas: um requinte!
O ceu: chuvoso!
O banho: deliciosa tortura!
Dormir: uma benção!

Verdadeira lástima o homem
Ter aquecido tanto o mundo
Ter transformado nosso inverno
Em um verão sem chuva,
Em uma tortura constante
Que só encontra paz
Meio ao ar-condicionado!

Oh! Que saudades
Do derradeiro inverno,
Que as estações não trazem mais!
Que brisa, que frio,
Naquelas manhãs nubladas,
Acompanhado de um bom filme,
Debaixo do cobertor!

Gustavo Souto de Sá e Souza - EEEC/UFG

Para sobreviver uma grande batalha

Com dificuldades e lutas E das barreiras encontradas
Eu fiz a minha vida à custa
Das experiências lapidadas.

E na caminhada
Para a vida futura
Ergui defesa imensurável
Que me afasta da amargura.

Não sei se sou forte
Se luto ou sigo em frente
(Peço ajuda a Deus e seu Filho amado)

Mas é certa a minha alegria e sorte
Que devo a um pedacinho de gente:
─ Mamãe eu te amo! É a voz do meu filho abençoado!

Nercy Lopes Chaveiro Cardoso - FF/UFG

DECEPÇÃO E LÁGRIMAS

Há muitos anos atrás uma experiência desagradável deixou-me traumatizado com a palavra “revista”. Tudo começou, quando minha professora primária falou-nos sobre tal revista que ela iria nos dar na sexta-feira seguinte, ou seja, daí a três dias. Ela pediu que todos nós avisássemos nossos pais sobre o que iria acontecer e que comparecêssemos todos limpinhos e preparados para receber a revista. Quando eu voltei para casa, fui saltitando de tanta alegria e com vontade de contar logo a novidade para minha mãe. Chegando à minha rua, fui logo avistando a minha casa, era amarela e já estava muito desbotada com o passar dos anos, as portas e as janelas, de madeira rústica, estavam corroídas pela ação do tempo. Na porta, deitado sobre a terra, estava o meu cachorro, o Furreca, um vira-lata prá lá de amigo. Entrei correndo pela porta dos fundos e logo avistei minha mãe fazendo a comida no fogão à lenha, cujo cheiro bom resplandecia pelo ar.
_ Mãe, eu vou ganhar revista da minha professora, ela pediu pra avisar a senhora e o meu pai. Pediu pra irmos limpinhos e arrumados na sexta-feira.
_ É mesmo filho? Ela falou que tipo de revista? Tomara que seja igual a da dona Tereza, a modista, com muita figura colorida.
_ Pode deixar mãe, que eu vou pedir uma dessas pra senhora e te darei de presente.
E todo eufórico fui para o meu trabalho. Eu ganhava a vida como engraxate no centro da cidade. Eu fui logo contando a boa nova pra todos os meus clientes que apareceram naqueles dias que antecederam o fatídico dia. Todos eles me davam tapinhas no ombro como que me parabenizando.Quando chegou o dia eu me arrumei todo, tomei banho e usei até um poço da água de colônia, de minha mãe, atrás das orelhas.Na sala de aula a professora pediu que ficássemos em silêncio que iria começar o que ela prometera. Eu estava sentado no primeiro banco da fila, perto da porta e fiquei espiando lá fora para ver as revistas que iriam chegar. Tão concentrado eu estava que não escutei minha professora me chamar.
_Joaquim, venha cá!
Eu levantei e fui até ela que sem nada dizer colocou as mãos na minha cabeça e começou a mexer nos cabelos como se procurasse alguma coisa escondida ali. De repente, ela parou e de forma enérgica falou: eu não disse para se preparar para a revista hoje? Em seguida chamou dona Rosa, uma auxiliar da escola, que me pegou pelo braço levando-me até o banheiro e lá colocou minha cabeça debaixo de uma torneira de água fria e começou a ensaboar meu cabelo, com um sabonete de cheiro ruim e muito forte, era o tal mata piolho. Entre lágrimas e muita decepção, voltei para a minha humilde casa, sem levar a revista que minha mãe tanto queria.

Anay Borges de Sousa - FF/UFG

Minha madrinha

De ti, minha madrinha, Eu nunca esquecerei,
De Pititinha tu me chamavas,
De querida te chamarei.
A ti, minha tia preferida,
Dei o meu verdadeiro amor.
Espero que esse amor
Seja um laço que perdure para sempre.
Estarei esperando pelo dia
Entre flores e lágrimas,
Em tempos de despedida
Te encontrar no Paraíso.

Anay Borges de Sousa - FF/UFG

SAUDADE

Adeus. Um último abraço. Virei as costas,mas continuei ali.
O tempo passa, mas a vida não caminha.
Por que as lágrimas teimam em cair?

Você se foi. Nossa vida se foi. Tudo se foi.
Eu vou, teimosa em continuar
Consumindo-me em mágoas, ressentimentos e desilusão
Cadê o caminho da saída?
Não basta dizer não.

A solução não surge
Nenhuma janela se abre
O sol brilha,mas nem sinto sua luz
O amor perdeu o sentido
Sentindo-me viva, ausente de mim mesma.

Morro aos poucos
Como numa vingança cruel
A dor aumenta e não corro
Meu ar respira fel
Mesmo revel me perco na angústia
Dos pensamentos inconsistentes como num véu.

Tudo borrado, sem cor, nem definição
Desbotando a vida dentro de mim
Esvaindo-me sem lutar
Perdida.
Perdi, de mim mesma e de tudo em ti.
Entreguei-te, querendo ficar.
À Deus.

Leila Abou Salha - FF/UFG

À ESPERA

E agora, Sakinah? As tradições te assombram num pesadelo
A morte ronda e beija tua face
As pedras serão lançadas, mas sua sorte se foi.
Que pecado sai de ti nesse devaneio?
Um amor, uma irresistível tentação
Nem o tempo, nem o silêncio, nem a verdade,
Nada mais faz sentido.
Se vivesse no Ocidente, não seria mais que mera especulação,
Nenhuma assombração.
Mesmo que não passe de um engano
Em nome do amor e em nome do ódio
De uma vida jogada ao limbo.
Quão lindo sentir vida, mesmo às custas do fim?
Você foi escolhida pela vida para ser símbolo
De resistência muda aos ditames da farsa.
Faça!
Um senão, um talvez, nada te impediu de sentir-se viva,
Mesmo sorvendo-a ao seu fim.
Assistimos sua dor,
Torcendo que aquele amor tenha merecido sua insana angústia,
Reprovando esse rancor e tanto desamor.
Sakinah continua, abaixada, à espera de justiça.

Leila Abou Salha - FF/UFG

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

RETRATO DE AGORA

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim forte, assim marcado, assim vivo,
nem estes olhos tão esperançosos,
nem o lábio colorido.

Eu não tinha esta distração,
tão cara e leve e corajosa;
eu não tinha este coração
que não mais implora.

Eu me dei por esta transformação
tão arriscada, tão rara, tão merecida:
- Esse é o momento em que
me abro para a vida!

Danyelle Nery Ramos - DDRH/UFG

MISTURA FINA

O Brasil é país continental dada suas dimensões geográficas, mas não somente: o Brasil é sui generis por abarcar, na sua formação cultural, um mosaico de povos, línguas, costumes, crenças, tradições. Isso o transformou numa nação plural, principalmente no que se refere à diversidade humana e, consequentemente, aos aspectos epistemológicos, políticos, ideológicos e religiosos de sua população.

Do norte ao sul muitas são as influências; no entanto, o brasileiro convive entre si de forma inusitada: católicos com protestantes, espíritas kardecistas com umbandistas, ateus com budistas, judeus com mulçumanos e, claro, sertanejos com roqueiros, funkeiros com pagodeiros, eruditos com populares. Na política, nem é preciso mencionar, o Congresso Nacional é uma colcha de retalhos de tantos partidos e siglas ideológicas, uns dogmáticos, outros nem tanto e, ainda, há os que nem sabem o que isso significa.

No esporte, amamos o futebol e vibramos com o automobilismo, improvisamos rede na rua para jogar vôlei, entendemos de ginástica e até campeonato de bolinha de gude nos une em frente à televisão. Adoramos uma feijoada, mas não deixamos escapar um sushi. Bebemos cerveja, vinho, cachaça, açaí, santo daime, garapa e até jesus.

Nosso perfil psicológico é engraçado... por um lado, somos uns “narcisos às avessas”, como dizia Nelson Rodrigues, de um pessimismo ao nível “se tudo pode dar errado, dará mesmo!”. Enaltecemos tragédias, nem sempre reconhecemos nossos avanços... tudo nosso é ruim: problemão de autoestima. Por outro lado, há o deslumbramento, a crença religiosa, o fascínio por novela, futebol (sempre somos os melhores jogadores do planeta) e muitos pensam e chegam até a pronunciar que Deus é brasileiro... Enfim, nosso melhor momento é quando essas duas partes se encontram e fundem-se. O resultado é o retrato do brasileiro genuíno: solidário, trabalhador, inventivo, engraçado, inteligente, esperançoso, alegre.

Nossa sorte foi e é exatamente a miscigenação, ter sangue indígena, africano, europeu, asiático, árabe e por ai vai... Somos muitos, somos diferentes; mas, ao mergulharmos nas águas da “mistura”, vimos à tona sempre e ainda mais brasileiros.

Danyelle Nery Ramos - DDRH/UFG

O despertar do taxista

Aroldo acordou sobressaltado, eram seis da manhã, olhou para o despertador e constatou que mais uma vez o aparelho não funcionou. Estava outra vez atrasado e às pressas saiu de casa com um pedaço de pão numa mão e na outra a chave do carro. Desde o início do mês, esse era seu ofício: dirigir um táxi.

Mesmo sofrendo com a escala de 24 horas dentro do carro, dia sim, dia não, Aroldo conhecia bem as vias da metrópole e era um exímio motorista. O rapaz de quase trinta anos formou-se em engenharia e sempre adorou dirigir, mas nunca havia passado por sua cabeça trabalhar num táxi. No entanto, desempregado por meses, a proposta do primo Juarez, taxista veterano e que por motivos de saúde precisou se aposentar, veio na hora certa.

Era manhã de inverno e Aroldo chegou até a Praça da República, seu ponto no centro da cidade. Logo ao estacionar a Paraty de Juarez foi abordado por um senhor grisalho, aparentando uns sessenta anos de idade que entrou no carro sem dizer uma só palavra.

- Bom dia, Senhor! Disse Aroldo observando pelo retrovisor o homem sério e quieto.

- Bom dia. Respondeu o passageiro com a voz baixa.

- Aonde vamos? Indagou o taxista.

- Não sei ao certo, estou sem destino. Toca aí... Disse o senhor.

Mesmo achando inusitado o pedido, Aroldo deu partida e lentamente entrou com o carro na avenida já repleta de veículos. O barulho do trânsito tomava conta do ambiente. Lá fora a cidade estava viva. Pessoas atravessando as vias, motociclistas ultrapassando os carros, ônibus lotados seguiam seu itinerário. No meio de tantas sirenes, apitos, fumaça, aquilo já era como música na rotina do taxista, uma sinfonia louca.

Após minutos de silêncio absoluto dentro do carro, Aroldo ouve um choro profundo e em seguida um desabafo:

- Amo esta cidade! Acordei cedo e fiquei na praça, sentindo este cheiro cinza que me pertence e ao qual pertenço. Estou de partida, me mudarei para o interior com minha filha e só quis contemplar esta paisagem, como uma despedida. Entrei no seu táxi porque começou a garoar e já garoava dentro de mim. Sempre vivi aqui, me fiz na dureza da selva de pedra, amigos, família, batalhei por uma profissão, trabalhei, sofri, fui feliz. Tudo lá fora é o resumo do que fui, do que sou e do que sempre serei... Disse com a voz embargada.

Aroldo ouviu e guiou. Levou aquele homem pelos pontos do velho centro da cidade e percebeu que nunca havia observado a beleza deste caos, da mistura de sortes, sotaques, sorrisos e sofrimentos. Fitava sempre os prédios, a estrutura física, a imponência do concreto, a loucura do trânsito, mas nunca olhava para as pessoas, exatamente as mesmas que, como o ilustre sexagenário a bordo, constroem, zelam, suportam, embelezam, sofrem e usufruem da cidade. As pessoas tinham sido até, então, meros figurantes para Aroldo.

Naquele momento, o engenheiro taxista resolveu tirar o dia de folga e junto com seu passageiro rodou horas por aquele cenário. O passageiro contou estórias de um tempo remoto da cidade, fatos históricos e pessoais e falou da saudade que iria sentir longe dali.

Aroldo começou a sentir um pouco mais de si e do que é a cidade de São Paulo e percebeu a importância que há na relação das pessoas com o espaço que habitam. Coisa que raramente se aprende na faculdade e, que, a partir daquela corrida, despertou o olhar do taxista.

Danyelle Nery Ramos - DDRH/UFG

terça-feira, 21 de setembro de 2010

AS SETE FALTAS QUE AMEAÇAM O ENSINO BRASILEIRO

1- FALTA DE INTERESSE
Os alunos brasileiros, na sua maioria, estudam por obrigação e não por vontade própria. Com isso, eles funcionam sob pressão, às custas de advertência e punições para exercer o que seria mais que a obrigação destes. Os estudantes ainda não entendem que eles precisam, de fato, aprender e não apenas “bater ponto”, em sala de aula, e ficar acima da média para aprovação.

2- FALTA DE BONS PROFESSORES
Boa parte dos professores, principalmente do ensino público, não possuem capacitação pedagógica voltada para o exercício da atividade, tais como cursos de psicologia, pedagógica, especializações, mestrados, doutorados, dificultando e prejudicando, dessa forma, a transmissão de conhecimento aos discentes.

3- FALTA DE COMPROMISSO
Um verdadeiro mal que aflige os alunos no Brasil, tanto dos ensinos fundamental e médio quanto dos cursos universitários, é a ausência de compromisso pessoal à sua formação, gerando como consequência principal uma ignorância e deficiência generalizada nas mentes que deveriam possuir algum saber.

4- FALTA DE DISCIPLINA
O comportamento de cada aluno é o reflexo de sua moral adquirida ao longo de sua vida pregressa. Isto infere que a educação familiar é o alicerce para a formação do caráter do aprendizado. No mundo atual, estamos vivendo uma crise de identidade familiar, onde os valores como respeito, obediência, temor, educação, honestidade estão de certo modo corrompidos, levando à falta de disciplina por parte dos alunos.

5- FALTA DE RECURSOS MATERIAIS
A educação ainda vive um drama com relação à infra-estrutura. As escolas passam por décadas sem uma reforma; as carteiras estão em situação precária, quando elas existem; nos pátios quase nunca existem os tradicionais “parquinhos”; os professores mal têm giz e quadro para darem as suas aulas; os livros não podem ser trocados na mesma frequência que em uma escola particular, sem dizer das inúmeras depredações realizadas pelos próprios alunos.

6- FALTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS
É certo que houve muito incentivo na formação superior nos últimos anos, com o ProUni e as questionáveis e polêmicas “cotas” para as Universidades Públicas. Mas, como fica a educação básica que é a base dos estudos posteriores? É preciso investir na educação e em profissionais compromissados com a qualidade. Todas as esferas de governo (municipal, estadual e federal) precisam priorizar a educação para que o Brasil cresça de verdade.

7- FALTA DE ÉTICA
Ainda que o ensino de qualidade seja o pilar fundamental da ciência, muitas vezes, pode-se perceber que em determinados conteúdos a ideologia dominante impõe-se totalitariamente, dando o seu tom e interpretação particular aos fenômenos de seu interesse. Assim, corre-se o risco de, ao invés de levar aos que desejam a luz da verdade, opera-se diametralmente o oposto, formando-se multidões de alienados e mutilados intelectuais.


Cássio Melo Martins - HC/UFG
Jeovan Pereira das Virgens - EEC/UFG
Larissa Matuda Macedo - ICB/UFG

Eu sei, e não devia

Eu sei que a gente se acostuma no trabalho, e não devia.

A gente se acostuma com a falta de compromisso, o não cumprimento do horário e da assiduidade. Isso, em virtude de não haver cobrança rígida pela chefia imediata, como acontece nas iniciativas privadas.

A gente se acostuma com a falta de incentivo por parte do poder público, de uma política que visa reconhecer o bom desempenho do servidor, levando-o ao desânimo e a apatia.

A gente se acostuma com a competição entre os colegas, com a falta de amizade, a falta de solidariedade, de integração e companheirismo para desenvolver um trabalho em equipe.

A gente se acostuma em conviver com os hábitos pessoais de cada um, com a forma de tratamento entre os colegas, que nem sempre é respeitosa.

A gente se acostuma com a burocracia e com a falta de uma política igual para todos os servidores.

A gente se acostuma com a falta de interesse de alguns colegas, que se limitam a desenvolver determinadas atividades e não aceitam novas tarefas e desafios.

A gente se acostuma a marcar nossos compromissos pessoais para serem resolvidos no horário de trabalho, achando que é natural.

Eu sei que existem esse vícios no serviço público; porém, devíamos contribuir mais com a nossa parte boa.
 
Anay Borges de Souza et al - FF/UFG

O santo dos subúrbios

A história de Tomás, um adolescente que morava nos subúrbios, começa no dia que ele tem uma discussão horrível com sua mãe. O tópico era o divórcio, que já completava 2 anos, e como ela havia se entregado ao álcool. Durante a briga, ele percebeu a quantidade de sonhos e ilusões que as pessoas, a mídia, o mundo implantaram em sua alma. Sonhos de família estável, dinheiro, fama e estabilidade. Sonhos para uma ou duas pessoas que conseguissem. Ilusões para um milhão de pessoas que não conseguissem.

Nesse dia Tomás fugiu de casa. Decidiu começar uma revolução. Queria mostrar ao mundo todas as mentiras, que sonhos vazios da mídia não passavam de ilusões. O garoto perdeu as esperanças e ganhou força através do ódio de se sentir enganado a vida toda. Entrou em uma gangue, e ficou conhecido como Tomé, aquele que não acreditava em mais nada – só vendo mesmo. Ele se via como um santo, que escrevia suas profecias nos muros da cidade com sua lata de spray e chutava as placas de propaganda eleitoral com seu tênis All-Star.

Nessa gangue conheceu uma garota. Famosa por sua rebeldia e por fazer justiça. Logo ele se apaixona por aquela que era a garota-problema, assim como ele era o garoto-problema. Nem mesmo sabia o nome dela, mas já sentia que era ela a pessoa certa. Tentando ganhar a atenção dela, ele se prontifica a participar de um ataque terrorista que ela planejou, de incendiar a mansão de um milionário famoso na cidade.

No momento de começar o incêndio, a consciência de Tomás aflora em Tomé. Ele se pergunta aonde tudo aquilo iria levar. As mentiras parariam depois disso? As pessoas seriam mais felizes? Afinal, essa era sua missão: levar a verdade ao mundo, e não causar a destruição. Mas por outro lado, sua paixão também gritava em seu peito. Se ele não acendesse aquele pavio, jamais conseguiria a atenção da garota dos seus sonhos.

Tomás falou mais alto e, conforme tinha previsto, perdeu sua chance com a garota rebelde. Ficou marcado como “garotinho rico”, que jamais entenderia a realidade das ruas. Deprimido, suas pregações começaram a ter um caráter mais niilista. Dizia a todos que estavam perdidos, que não havia Deus nenhum que viria nos salvar. E que, por isso, se nós não começássemos a nos mover, nada iria mudar.

Uma batalha entre Tomás e Tomé era travada na mente do garoto. Ser o garoto pacato que todos amam e ignoram, ou ser o punk que faz tudo o que deseja e é odiado? Sem perceber mudanças reais no mundo, ele decidiu que Tomé deveria morrer. Voltou para casa, como Tomás, e foi recebido de braços abertos por sua mãe. Decidiu lidar primeiro com os problemas em sua casa, que talvez assim conseguisse realmente mudar alguma coisa no mundo algum dia.

Hoje, Tomás trabalha numa empresa de fotocópias no centro da cidade. Sustenta a casa, enquanto sua mãe participa de reuniões dos Alcoólatras Anônimos. E sempre, antes de dormir, lembra-se daquela garota que queria mudar o mundo, assim como ele. Será que um dia ela vai conseguir fazer as pessoas verem a verdade?

Essa é a história de Tomás, que não se arrepende de não ter incendiado a casa do milionário. Não se arrepende de ter fugido de casa. Arrepende-se mesmo é de nunca ter perguntado o nome daquela garota, que até hoje não saiu de sua cabeça.

Gustavo Souto de Sá e Souza – EEEC/UFG

Uma grande estreia

Em um dia quente e tranquilo, um jovem palhaço recém-casado estava sentado num sofá, bebericando wisky gelado, o seu passatempo preferido, e aguardando o momento heroico de sua grande estreia.

Enquanto pensava sobre a vida, o casamento, as responsabilidades de sua profissão, as obrigações, seus deveres, sua mulher chegou de mansinho e lançou-lhe um olhar meigo, doce e disse:

- Você tem ideia de como será sua apresentação diante da plateia? Ele lhe respondeu que, apesar de estar um pouco paranoico e que só de lembrar do show, sentia um friozinho na barriga que lhe dava mal-estar, enjoo. O jovem palhaço levantou-se do sofá e acrescentou:

- Sou um palhaço e não posso desapontar a minha plateia que, juntamente com você minha esposa, minha joia maravilhosa, será tudo o que necessito para ter força, aumentar minha autoestima, neste momento importante.

À medida em que a hora do espetáculo chegava, ele se sentia mais autoconfiante. Porém, passado mais ou menos cinquenta minutos para o grande momento, eis que o artista, já inseguro, entra no palco rapidamente e para. Num esforço subumano, olha para o público, ao ver os olhares atentos daquelas crianças e dos adultos se sentiu muito corajoso, pois percebeu tamanha responsabilidade. Naquele momento, não poderia decepcionar a sua plateia. Seria a grande oportunidade de mostrar o seu novo trabalho.

Finalmente, com o apoio de sua amada e do seu público querido, num gesto majestoso, levantou a cabeça dizendo:

- Respeitável público, começa o nosso espetáculo, hoje será uma grande estreia!

Nercy Lopes Chaveiro Cardoso - FF/UFG

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A VIDA PASSA OU NÃO PASSA?

A vida passa. Ou não passa?
Na descida da solidão.
No fundo, acaba a
graça da dor,
brotando sem rancor.

A melancolia nos envolve.
Sempre mais, nos seduz
em um olhar e uma lágrima
cai dos olhos, sem luz.

A vida se esvai. Sem pena, nem dó.
Cada dia, cada hora.
A vida é toda vestida de
cinza e em cinzas sem vida.

A minha vida e a tua, desperdiçadas.
Encontros sem medida.
Passou a dor, só há o vazio.
A vida é o vazio do tempo.

São mitos do calendário.
Sempre o antes, nunca o agora.
E a sua perda é uma parada
na memória.

A nossa dor, o amargor
que teima em nos lembrar:
só quem sofre sente o último
suspiro para renovar.

Leila Abou Salha-FF/UFG

Nem tudo é como a gente quer

Eu tive uma ideia de fazer um diferencial com a minha peça teatral. Na minha estreia, a plateia assistiu e ficou entusiasmada, arremessando uma joia que ajudou-me a conhecer a comunidade europeia.

À oportunidade, em assembleia que parecia uma colmeia, pude expressar sobre a peça que iria apresentar e, logo depois da aceitação, sai de lá com um ar heroico de contentamento; pois, dentro de mim, explodia um planetoide de tamanha alegria.

Mas a alegria durou pouco. Tive uma tireoide e emagreci, assustadoramente, e foi uma panaceia para curá-la.

Enfim, só depois de tanta luta, a alegria retornou e pude brilhar nos palcos europeus.

Angelita Franke-PRPPG/UFG

Dialética da existência

São tantas as primaveras e diversidades que, com o tempo, construímos um antagonismo de vida. Parecendo que a cada momento o nosso viver tornasse uma dialética, onde o velho e o novo se entrelaçassem no complexo de antigos acontecimentos e novos conhecimentos. Descobrimos nas músicas, nos fatos, nos diários íntimos, nas cores. As correlações não são efêmeras e sim, correspondem aos significados, a partir do ponto de vista, acrescenta ou não, valor às estações.

Temos a capacidade de evoluir com situações das mais diferentes, com uma maturidade, a qual, no decorrer da vida, origina o redesenhar de conquistas dadas por Deus e a assimilação do próprio homem.

Crescer é tamanho ou capacidade? Sem dúvida, são os dois, pois basta emergir o volume de aptidão e habilidade onde conseguimos descortinar deste paraíso o mundo.

Somos espelhos e reflexos, temos a sensibilidade de mergulhar e redescobrir dentro de nós potencialidades que, de alguma forma, ameniza e intensifica, mas com um diferente sabor e/ou dissabor engendrado de fortalecimento. O tempo diferencia etapas, demonstrando a disparidade pela qual temos que caminhar.

Acredito nessa diversidade própria do nosso planeta. E por que não? Somos, em nossa essência, corpo e alma, buscando soluções e respostas para compreender a pulsação da nossa existência.

Angelita Franke-PRPPG/UFG.

domingo, 13 de junho de 2010

Que país é este?

Alice saiu apressada. Então, sob a claraboia, começou a pensar a respeito do que havia lhe acontecido. Afinal de contas quem era ela? E o coelho? Era subumano pensar que, depois de um simples passeio extraoficial com o príncipe, ela cairia nas graças da rainha. Sua cabeça rodava, rodava, rodava, e já não sabia se sua vestimenta era cor-de-rosa, se estava no País das Maravilhas e se aquela azaleia era a mesma que havia visto minutos antes do coelho passar, como sempre, em seu voo solitário e olhando, a todo instante, o relógio pendurado no seu bolso, por uma linda corrente de ouro. Tudo isso era tão paranoico para a menina, chegando mesmo a questionar: “Que país é este?”.

Lucyene A. Elias Vaz
Faculdade de Engenheira Civil/UFG

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Loucografia necessária


Acostumar com a modificação da grafia das palavras não é tarefa fácil. Escrever é uma ação natural, quase automática, pensamos e as palavras são transferidas da ponta da caneta (do teclado) para o papel, sem grande esforço mental.

Neste momento, contudo, como passamos por uma fase de adaptação, essa naturalidade sofre uma mitigação, devemos pensar na grafia das palavras antes de escrevê-las, realizar consultas em dicionários, pois, mesmo aquelas que não sofreram qualquer alteração, chegam ao papel cobertas de dúvidas e indagações.

Que tormento grafar ideia e jiboia sem acento, nem o computador aceita e, se agarrando à última esperança, as acentua, expondo orgulhoso na janela de regras - os ditongos abertos ei e oi das paroxítonas são acentuados. Eu grito com o computador, que é só o que me resta fazer: não são mais!
Dá uma vontade tremenda de colocar um acento circunflexo nos verbos da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou subjuntivo, tais como veem, deem, leem, creem. O enjoo e o voo estão tão estranhos sem acento.

Acredito piamente que não vou mais usar, para o meu próprio bem, as palavras com ou sem hífen, tamanha a confusão - micro-ondas, contrarrazões, suprassumo.

Mas o sumiço do trema é o meu maior tormento, aquele com o qual tenho os mais horríveis pesadelos. É um absurdo cinquenta, arguição sem trema. Dia desses sonhei com um delinquente perguntando, entre lágrimas e soluços, por quê?

Daniela Dias Robalo - FEN/UFG

A Evolução (!?) do Ser Humano


Há muitas coisas que nos pesam a alma, tornam-nos cansados, lentos e impacientes, fazem-nos zumbis. Andamos sem direção, sem destino, como que para lugar nenhum. Nada questionamos e nas poucas vezes que o fizemos as respostas que obtivemos - boas ou ruins-, não mudam em nada nossas mentes e não nos demovem um milímetro de nosso caminho febril e de nossa direção (que direção) constante. A informação tomou o lugar de tudo, nobre, ofensiva, dramática, mordaz, engraçada, irônica, invade nossas vidas, toma de assalto nossa privacidade, encontra-se com o óbvio e o torna detestável, sem escrúpulos, sem perdão. A intimidade virou extimidade. Nosso cérebro move-se tal como uma máquina. Não inteligente, com movimentos precisos e raciocínio rápido, mas insensível, entorpecida e com movimentos calculados. Nada lhe comove. Nada lhe enfurece. Nada lhe emociona.

Nossos corações foram substituídos por cofres, nossas mãos por ferramentas de trabalho, nossos pés por velozes e furiosas rodas. Evoluímos ou involuímos?

Tornamos-nos máquinas de nós mesmo e já nascemos obsoletos.

Daniela Dias Robalo - FEN/UFG

REUNIÃO EM FAMÍLIA


Quase todos os domingos, reunimos-nos na casa da minha mãe, como forma de passatempo para ver jogo de futebol transmitido pela tv aberta, já que não temos tv por assinatura, ou seja, canal fechado, aquela que a gente paga para ter acesso aos programas transmitidos por estes canais.

Fomos recebidos pela minha mãe, uma senhora bem-humorada.

Neste domingo, não tivemos a presença do Dedê, meu irmão, já que ele é vilanovense e, como o Vila iria fazer sua estreia no Serra Dourada, ele e seu amigo Robinho foram ver o jogo no local. Quando eles sairam, eu ainda falei: não vão, porque o jogo vai ser difícil pro Vila; não deu outra, o Vila perdeu de 3x1. Que feiura!

Outra anormalidade observada, neste domingo, na casa da minha mãe, foi o fato de não tomarmos aquela teteia de cervejinha gelada, isto porque o Aguinaldo, meu cunhado, que é o maior incentivador para comprarmos aquelas cervejinhas, estava em uso de medicamentos para curar enjoo, passou mal e foi parar no CAIS.

Então, assistimos ao jogo só na base do refrigerante e comendo linguiça frita com mandioca cozida. E foi tudo bem!

Antonio Paulino Ferreira - TRANS/HC/UFG

A HISTÓRIA DE JOÃO DA SILVA


João da Silva nasceu na Fazenda Guarda-chuva, município de Meia-Ponte. Desde menino, trabalhou durão na roça e não pôde estudar, por falta de tempo e por não ter escola na região na qual morava. Para não dizer que não estudou nada, ele assistiu algumas aulas, junto com os filhos do patrão, com um “mestre” que este havia contratado para educar os seus filhos.

Como o rapaz tinha facilidade para aprender, o patrão, com medo de ficar sem mais um peão para cuidar das suas fazendas, cuidou logo de impedir que o empregado continuasse frequentando as aulas. Com o impedimento de frequentar as aulas, ele foi muito contrariado e até um pouco antissocial.

O moço aprendeu o alfabeto e a juntar letras para formar algumas palavras. Aprendeu, também, a desenhar o seu nome completo. Era semianalfabeto.

Continuou no trabalho duro da roça. Com as qualidades de trabalhador e honesto, não foi difícil encontrar pretendente para namoro. Começou, então, a namorar Maria Aparecida, filha do seu José, que trabalhava como agregado na mesma fazenda. Seu José, vendo que se tratava de um bom rapaz, logo falou no casamento. Considerando que os namorados já se amavam, trataram de cuidar dos preparativos para o casório. Casaram e continuaram trabalhando, na fazenda. Após alguns meses, veio a boa nova: Aparecida estava grávida. Com esta feliz notícia, o futuro pai teve que trabalhar dobrado para cuidar de três: ele, a esposa e o filho.

Com o nascimento do filho, João foi se preocupando mais e mais com o futuro da sua família. Não queria que o seu filho fosse criado como ele fora, tendo que trabalhar muito e, no final do mês, ver o patrão mais rico e quem produziu ficar mais pobre. E o moço tomou uma decisão: ia se mudar com a família para um lugar mais adiantado em busca de melhoras. Mudou-se com a família para a capital. Com o pouco dinheiro que tinha, alugou um barracão na periferia e saiu à procura de trabalho no centro da cidade. Conseguiu uma vaga como servente de pedreiro numa firma.

O rapaz foi sempre muito curioso, queria sempre aprender alguma coisa. Tinha o desejo de ser motorista. Quando tinha a oportunidade de andar de carro com alguém, ficava sempre observando e aprendendo. A vontade de ser motorista era tão grande, que passou a estudar à noite e fazer horas extras na construção, nos fins de semana, para juntar um dinheirinho para pagar uma autoescola.

Sempre foi muito sonhador. Desejou aprender a dirigir caminhão e ônibus e foi habilitado na categoria D. Na primeira oportunidade que surgiu, na firma onde trabalhava, candidatou-se a uma vaga de motorista de caminhão. Aprovado no exame, foi contratado nessa função.

A partir de então, passou a enfrentar as loucuras do trânsito na capital e ver a quantidade de motoristas despreparados que saiam pelas ruas da cidade, pondo em risco as suas vidas e as vidas de muitas outras pessoas. Por isso, João quis ser instrutor de autoescola, com o intuito de colaborar para humanizar um pouco mais o trânsito. Ele foi a uma autoescola que precisava de instrutor, fez o teste e foi aprovado. Diante da nova situação, pediu contas da firma que trabalhava e começou a trabalhar como instrutor. De início, ele começou ensinado em um micro-ônibus, com câmbio semiautomárico.

O dono da autoescola percebeu a capacidade, o interesse e a responsabilidade do jovem instrutor e o nomeou para ensinar os alunos com um ônibus. Como o seu trabalho foi valorizado, além de ganhar melhor, teve a sua autoestima elevada.

João da Silva se tornou o instrutor modelo da autoescola. Mas, mesmo com todo reconhecimento, ele continuou humilde e nunca se sentiu o suprassumo da arte de ensinar a dirigir.

Geraldo Pereira - MUSEU/UFG

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Poeminha suado

Nunca fiz um poema,
Seria isso um problema?
Até hoje não,
Porém, uma tarefa de Português
Trouxe à tona a questão.

Pus-me a pensar
Sobre esse travamento,
Que na verdade é
Ausência de talento.

Devo trabalhar
A autoestima?
Ou apenas aceitar
A total falta de lírica?

Aprecio poesia
Pessoa, Drummond,
Quintana e Cecília...
Mas daí fazer versos, não,
Isso é coisa de artista.

Ou estaria Einstein
Certo em sua equação:
“10% de inspiração
e 90% de transpiração” ?

Continuo essa epopeia,
Mas não sou tão otimista
Tento ao menos uma ideia
E opto por ser simplista

Num esforço suprassensível
Encerro tais investigações
No afã de não ter maltratado tanto
Nem a arte e nem a língua de Camões.

Danyelle Nery Ramos - DDRH/UFG

João e a vida como ela é

Desde pequeno João era encantado pelo amor. Não sabia explicar, apenas sentia. Mais tarde entenderia que é exatamente ilógico querer explicar algo que é só sentimento.

Atentava desde cedo a tudo que os adultos falavam sobre o tema, mas já intuía que o amor incondicional não dependia de preceitos filosóficos ou religiosos e que não eram necessários dogmas para comungá-lo. Frequentemente notava que a maioria dos adultos não praticava no dia-a-dia a ladainha que tanto discursava. Talvez a tarefa fosse árdua demais.

Para João, o amor era como o alimento, a água, a morada, o abrigo, uma necessidade básica. Sabia o menino que a espécie a qual pertencia dependia da interação, não somente pela necessidade de perpetuar-se, mas para sobreviver. Sentia que quando se ama, inevitavelmente, de alguma forma há satisfação mesmo que a recíproca não exista na mesma dimensão. Já entendia um pouco da vida...

Na juventude, identificou o egoísmo como uma característica humana, talvez como algo que estivesse na memória genética, trazido de um tempo em que era cada um por si e só. Frequentou bons colégios, foi aluno de alguns mestres e seguiu os estudos sobre as humanidades. Permitiu-se descobertas, entre elas a do amor passageiro, não menos importante e verdadeiro. Descobriu também que a vida é feita de encontros e despedidas. Que há várias formas e matizes no amor e seu valor é baseado na experiência individual. E o amor deixa de ser uma ideia para João e passa a ser algo factual e em constante construção.

Por ser um defensor do amor, João fora considerado pelos familiares um religioso, talvez por não aceitarem que era ateu. Pelos companheiros de faculdade fora um romântico do século XIX, talvez por não perceberem que era um exaltador da vida, inclusive no que ela tem de mais triste. Para algumas mulheres João não passou de um idiota, talvez porque não suportassem o fato de que “é impossível amar e ser feliz ao mesmo tempo”. Isso para elas não passava de mais um contrassenso Rodriguiano. Mas com outras mulheres conseguiu o que procurava, parcerias comprometidas pelo desejo e sentimento. Raros encontros que fazem valer os percalços da procura. E finalmente, pelos amigos João é considerado o João, o cara, como todos, cheio de defeitos e imperfeições, mas com um coração grande tomado de esperança e amor. Um sujeito de atos heroicos por amar sem idealizar e acreditar mesmo sem ter garantias.

Hoje João anda por aí, às vezes, acompanhado; às vezes, não, mas sempre apaixonado pela vida. Amadurecido, experiente, ainda é aquele menino e traz consigo um brilho no olhar. Segue a vida repetindo, entre tantos, seus versos preferidos de Adélia Prado: “alegre ou triste, o amor é a coisa que mais quero”.


Danyelle Nery Ramos - DDRH/UFG

Amorfo


Vejo-me agora com uma missão: a de escrever um texto de, no mínimo, quinze linhas sobre qualquer coisa. Mas quando parei para pensar, vi que escrever sobre qualquer coisa é bem mais complicado que escrever sobre um tema específico. Achei tão complicado que decidi escrever sobre isso.

Escrever sobre qualquer coisa implica em poder falar sobre tudo, ou nada; ou sobre tudo e nada, ao mesmo tempo. Poderia falar sobre minissaias, ou macarrão feito no micro-ondas. Coisas tão diferentes resumidas ao mesmo título, à mesma classificação. Essa indefinição, a falta de um molde, a falta de uma palavra de ordem diz respeito à liberdade de escolha. Sou livre para fazer o que eu bem entender, mas não sei o que fazer com tanta liberdade.

Toda essa dificuldade de lidar com a liberdade para escrever um texto dá uma excelente analogia com a vida. Temos liberdade de escolher entre pular de paraquedas, estudar para ser um engenheiro ou, até mesmo, fazer nada. Como você sabe, qual a escolha é a mais certa? São tantas possibilidades, que é comum ver pessoas aos seus 30 anos sem saber o que fazer com a vida que lhes foi dada. E não é incomum ver pessoas aos 60 na mesma situação.

Então, de onde vem tanta dificuldade em escolher? Talvez, pelo fato de que escolher uma ideia implique em rejeitar alguma outra. E para alguém que preza tanto a liberdade, rejeitar uma possibilidade é um pecado capital. Mas não precisa pensar muito para se perceber que o medo de fazer escolhas é um medo inútil, pois não fazer escolhas já é uma escolha em si.

Conclui-se de tudo isso que a vida é como um texto, sem um tema específico: damos a ela a forma e o objetivo que desejamos. E o medo de decidir sobre essa forma não justifica a indecisão. Esse medo provavelmente é autossabotagem. Viva, escolha, dê um tema para seus textos e para sua vida!

Gustavo Souto de Sá e Souza - EEEC/UFG

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Língua Portuguesa: produção de textos

A todos vocês confesso
E os seus perdões eu peço
Por eu não saber
Escrever em prosa;
E, por caminhos diversos,
Busco no meio dos espinhos
Uma rosa
Com meus humildes versos.

Com o curso
De “Língua Portuguesa:
produção de textos”,
A luz sobre nós desce
E trilhamos da sabedoria o percurso.
Para nossa defesa,
Juntamos os seixos
E construímos do conhecimento o alicerce.

A luz penetra nas entranhas
Da nossa alma
E, com calma,
Iluminamos as nossas trevas tamanhas.

Aprendemos a seguir
O caminho certo,
Até cada um conseguir
Um oásis no deserto.

Com a água da sabedoria
Saciamos as nossas sedes,
Preenchemos nossas almas vazias
E seguimos sem medos.

Com o conhecimento que recebemos
Estaremos abastecidos
Para seguir nossa viagem.
E seguimos unidos
Na certeza de que chegaremos
Ao porto seguro da linguagem.

Geraldo Pereira - MUSEU/UFG

domingo, 9 de maio de 2010

Para que estudar gramática?

Segundo a Wikipédia, gramática é o conjunto de regras individuais usadas para um determinado uso de uma língua, não necessariamente o que se entende por seu uso correto. É o ramo da linguística que tem por objeto estudar a forma, a composição e a inter-relação das palavras destro da oração ou da frase, bem como o seu apropriado e adequado uso.

Para Zailda Coirano, estudar gramática é tão importante para uma entrevista de emprego quanto para escrever melhor ou aprender uma nova língua. O uso adequado da gramática ajudará imensamente para concorrer a uma vaga de trabalho; e, ao contrário, não dominar a gramática, atrapalhará a disputa pela vaga. Para ela, aprender gramática não é tão difícil. E sugere que devemos ter um livro de gramática para consultas, do mesmo modo que temos um dicionário, para que, na medida em que o utilizamos, haja familiaridade com as normas.

Já, para o professor Luiz Carlos (UFMG), mais que memorizar regras, os alunos devem aprender a interpretar textos, a extrair suas ideias centrais e a praticar a escrita. Para ele, saber bem as regras gramaticais é dever dos professores de português que devem simplificar o estudo da língua aos alunos; devendo, portanto, aprender a concordância, a regência e a construir texto.

Acreditamos que a gramática nos oferece subsídios para construir bons textos. É o ‘como’ escrever, uma vez que o uso de suas normas torna-se estratégia (ferramenta) relevante para construir textos coesos e coerentes com as nossas ideias.

Luiz Lacerda Santos Júnior (Luizinho) – Hospital das Clínicas/UFG

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Hospital pobre ou pobre hospital

O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás sempre teve problemas, falta de verbas para comprar remédios, desde simples anti-inflamatórios e anti-ictérico aos remédios para doenças autoimunes. Falta de substituição de funcionários que aposentaram ou morreram, até condições de trabalho subumano.

Sim, o Hospital teve e tem muitos problemas, mas também tem muitas soluções e riquezas. Na realidade, o Hospital tem cerca de três mil soluções: os seus funcionários. Funcionários concursados federais, estaduais e municipais. Funcionários da FUNDAHC, das firmas terceirizadas, alunos, voluntários, estagiários, professores e outros. Tendo vínculo oficial ou extraoficial, não importa. O importante é a dedicação e amor ao serviço do Hospital, às pessoas carentes ou não. Não importa se o paciente é analfabeto, semianalfabeto ou letrado; se é pobre, rico ou milionário. Só importa a saúde do paciente.

Na condição de hospital escola, os alunos têm atividades escolares e extraescolares em seu recinto, muitos retornam como residentes ou professores.

Às vezes, nossa autoestima fica baixa; outras, alta, todavia fazemos o nosso melhor. Realmente somos ricos por causa das pessoas que aqui trabalham.

Por isso, devo dizer que ficamos mais pobres. Faleceu na sexta-feira passada, um funcionário símbolo Ediberto “Carneirinho”, o mais antigo servidor do Hospital cerca de quarenta anos de serviços no protocolo do Hospital. A você, Carneirinho, as nossas preces para que, junto ao nosso Senhor, esteja colhendo o suprassumo de todo o seu trabalho.

Ficamos mais pobres com sua falta; porém, sempre seremos ricos com suas lembranças. Fique com Deus, Ediberto!

Luiz Lacerda Santos Júnior - Hospital das Clínicas/UFG

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Lembranças



Fez-se outono na brachiara,
As cigarras cantam, cantam,
É uma sinfonia que encanta
O cheiro da terra úmida perfuma o ar
E a vontade de contemplar tudo se faz repensar
Fecho-me no calor do fogão a lenha
Salivando para o jantar
É tempo de parar.

O corpo pede o descanso,
Os olhos teimam em fechar
Num bocejo lânguido, preciso repousar.
Da lamparina brota a penumbra
As sombras surgem à medida que as feições se vão
É tempo de desligar.

Pensar e repensar no labor de amanhã
Mais que lamentar pelo que há por fazer
É tempo de agradecer.

Num pensamento perdido, abraço Morfeu
O sono de mansinho como um afago de carinho
Envolve-me sem pensar
É tempo de sonhar.

Vejo-me menina numa cantiga de roda
Cantarolando e brincando
Vejo-me mulher com um passado radiante
É tempo de acordar.

Leila Abou Salha - Faculdade de Farmácia/UFG

Para quem para: parabéns!

Para quem para na faixa de pedestres: pare de ter medo de colisões traseiras!
Pelas leis de trânsito, deve-se parar. Pode até parecer um ato heróico,
Convém seguir. Chorar depois, não haverá como remediar.
Para os que creem em Deus: parar é ato de respeito ao próximo.
Não sou antirreligiosa, sou também cidadã.
Uns minutinhos a mais no percurso não nos tira do curso
Nem aumenta nossa ânsia de chegar.
Para os que se magoam facilmente, essa não é uma repreensão
Provem de uma constatação: somos todos pedestres.
Parabéns, para quem para! Para quem não para, esse mal-habituado, não custa mudar.
A vida agradecerá, inclusive a sua.

Leila Abou Salha - Faculdade de Farmácia/UFG

quinta-feira, 25 de março de 2010

O dia de um professor


Bip, bip, bip, bip o despertador toca, são cinco horas da manhã, o professor olha para o lado e vê que a sua noite acabou. Ele sempre coloca o despertador, um rádio relógio, para despertar às cinco, mas só levanta às 5h:15min. Então ele tenta dormir mais um pouco, só que a ansiedade não o deixa.
Bip, bip, bip, bip, o despertador toca novamente, agora já são 5:15 e ele tem que se levantar. Enfim, o nosso professor se espreguiça uma, duas, três vezes e dá aquele salto da cama, seu dia vai começar. Calça as suas velhas sandálias do tipo havaianas, pega uma toalha que está sobre a cabeceira de sua cama e dirige até o banheiro. Chegando lá, o nosso protagonista, após realizar as suas primeiras necessidades fisiológicas básicas, abre o chuveiro com a chave no quente e começa o seu banho acompanhado, é claro, pelo horrível timbre de sua voz, tentando entoar uma música.
Após três minutos, o seu banho está encerrado. O nosso personagem é rápido e objetivo. Depois, ele se enxuga com a toalha que ainda estava um pouco molhada do banho realizado, na noite passada. Escova os dentes e volta para o quarto para vestir a sua roupa.
Estilo de roupa de professor é variado. O nosso personagem usa uma calça jeans surrada, uma camiseta do tipo gola polo e um tênis básico. Já são 5:30, o docente precisa sair logo, se não, ele perde o “busu”. Abre o seu portão, nota que a rua já está movimentada, o botequim do “seu” João já está aberto e a padaria do vizinho também. Pede um café preto num copo descartável e segue para o ponto de ônibus.
Exatamente 05h45, e o primeiro coletivo do nosso professor chega na parada de ônibus. Dali até o centro gastará de 15 a 20 minutos. Após esse tempo, o nosso mestre chega, no centro da cidade. Segue em direção a um dos terminais do eixo Anhanguera. Toma o famoso ‘transurbão’ no sentido do terminal da Praça da Bíblia, chegando lá, por volta das 6h20 minutos.
Em seguida, deixa o terminal e vai para um posto de gasolina próximo esperar o ônibus que irá levá-lo até a cidade de Anápolis. Quando ele entra no ônibus, são 6:35. Entre 7:20 e 7:30 ele estará no município de Anápolis. Dentro do ônibus, as opções são variadas: repassa a sua aula ou conversa com um companheiro ao lado ou dorme um pouco. Nesse dia, o nosso professor preferiu dormir.
Às 7:25, já dentro da faculdade, o educador se dirige à lanchonete compra dois pães de queijo e um café com leite para “forrar” o estômago, pois logo começaria a sua luta. Às 7:35, já atrasado, assina o seu ponto, pega o seu diário e dirige-se ao seu laboratório de aula.
Nesse dia, como de costume, tudo ocorreu dentro da normalidade: alunos interessados, uns poucos desinteressados, intervalo para lanche, intervalo para almoço; pedidos para ir ao banheiro, para resolver problemas na coordenação. Um pouco de psicologia com alguns ou outros alunos. Dizem que todo professor tem um pouco de psicólogo também e, principalmente, aquela famosa frase: “professor, posso sair mais cedo hoje?”.
O dia passou, e às 17:15 o nosso professor fez todo o caminho de volta. Ônibus de Anápolis à Goiânia, parada na Praça da Bíblia, transurbão até o centro da cidade e, de lá, até o seu setor. Chegando ao seu setor, ele não parou na padaria do vizinho, mas sim no botequim do “seu” João e pediu uma cerveja super gelada, afinal ninguém é de ferro.
Daqui em diante, é impossível continuar a história do nosso mestre, pois foram tantas cervejas naquele dia!...

Juvan Pereira da Silva
Técnico de laboratório do Instituto de Química/UFG

De quem é a culpa?


No Brasil, a linha tênue que separa a intolerância da barbárie é a mesma que divide a tolerância da indiferença. Este par de opostos é revelado e percebido, através de acontecimentos recorrentes que impressionam, mas não mais surpreendem a sociedade brasileira.

Diariamente notícias e relatos sobre violência, corrupção, fome, desemprego, miséria, impunidade, são anunciadas pela mídia, aumentando a sensação de insegurança e impotência experimentada pela população que está, cada vez mais, assustada e apática frente às transformações do mundo moderno. Onde procurar as causas do sofrimento dos famintos e doentes? Quem culpar pela dor e angústia provocada pela violência e pelo tráfico? Como responsabilizar os representantes corruptos e injustos? No Brasil, assim como no restante do mundo, essas perguntas são reformuladas a cada nova geração de problemas e conflitos sociais que se apresentam transformando o cotidiano dos cidadãos, que anseiam por soluções urgentes capazes de possibilitar a organização de planos, a concretização de projetos de vida e a realização de sonhos, muitas vezes interrompidos por ações intolerantes e reações indiferentes. A insegurança se constituiu a palavra de ordem. Estamos perdendo as expectativas, as esperanças, o controle. Estamos sobrevivendo, tentando superar as incoerências, diante das incertezas do próximo minuto.

A vida em sociedade e a convivência entre instituições e indivíduos devem ser permeadas de respeito, com reconhecimento das diferenças; só assim, poderemos vislumbrar um mundo melhor. Portanto, identificar e solucionar os problemas advindos das relações humanas é uma função coletiva.

Ludimilla Otaviana de Sousa e Silva
Assistente em Administração do Instituto de Física/UFG.