quarta-feira, 26 de maio de 2010

A HISTÓRIA DE JOÃO DA SILVA


João da Silva nasceu na Fazenda Guarda-chuva, município de Meia-Ponte. Desde menino, trabalhou durão na roça e não pôde estudar, por falta de tempo e por não ter escola na região na qual morava. Para não dizer que não estudou nada, ele assistiu algumas aulas, junto com os filhos do patrão, com um “mestre” que este havia contratado para educar os seus filhos.

Como o rapaz tinha facilidade para aprender, o patrão, com medo de ficar sem mais um peão para cuidar das suas fazendas, cuidou logo de impedir que o empregado continuasse frequentando as aulas. Com o impedimento de frequentar as aulas, ele foi muito contrariado e até um pouco antissocial.

O moço aprendeu o alfabeto e a juntar letras para formar algumas palavras. Aprendeu, também, a desenhar o seu nome completo. Era semianalfabeto.

Continuou no trabalho duro da roça. Com as qualidades de trabalhador e honesto, não foi difícil encontrar pretendente para namoro. Começou, então, a namorar Maria Aparecida, filha do seu José, que trabalhava como agregado na mesma fazenda. Seu José, vendo que se tratava de um bom rapaz, logo falou no casamento. Considerando que os namorados já se amavam, trataram de cuidar dos preparativos para o casório. Casaram e continuaram trabalhando, na fazenda. Após alguns meses, veio a boa nova: Aparecida estava grávida. Com esta feliz notícia, o futuro pai teve que trabalhar dobrado para cuidar de três: ele, a esposa e o filho.

Com o nascimento do filho, João foi se preocupando mais e mais com o futuro da sua família. Não queria que o seu filho fosse criado como ele fora, tendo que trabalhar muito e, no final do mês, ver o patrão mais rico e quem produziu ficar mais pobre. E o moço tomou uma decisão: ia se mudar com a família para um lugar mais adiantado em busca de melhoras. Mudou-se com a família para a capital. Com o pouco dinheiro que tinha, alugou um barracão na periferia e saiu à procura de trabalho no centro da cidade. Conseguiu uma vaga como servente de pedreiro numa firma.

O rapaz foi sempre muito curioso, queria sempre aprender alguma coisa. Tinha o desejo de ser motorista. Quando tinha a oportunidade de andar de carro com alguém, ficava sempre observando e aprendendo. A vontade de ser motorista era tão grande, que passou a estudar à noite e fazer horas extras na construção, nos fins de semana, para juntar um dinheirinho para pagar uma autoescola.

Sempre foi muito sonhador. Desejou aprender a dirigir caminhão e ônibus e foi habilitado na categoria D. Na primeira oportunidade que surgiu, na firma onde trabalhava, candidatou-se a uma vaga de motorista de caminhão. Aprovado no exame, foi contratado nessa função.

A partir de então, passou a enfrentar as loucuras do trânsito na capital e ver a quantidade de motoristas despreparados que saiam pelas ruas da cidade, pondo em risco as suas vidas e as vidas de muitas outras pessoas. Por isso, João quis ser instrutor de autoescola, com o intuito de colaborar para humanizar um pouco mais o trânsito. Ele foi a uma autoescola que precisava de instrutor, fez o teste e foi aprovado. Diante da nova situação, pediu contas da firma que trabalhava e começou a trabalhar como instrutor. De início, ele começou ensinado em um micro-ônibus, com câmbio semiautomárico.

O dono da autoescola percebeu a capacidade, o interesse e a responsabilidade do jovem instrutor e o nomeou para ensinar os alunos com um ônibus. Como o seu trabalho foi valorizado, além de ganhar melhor, teve a sua autoestima elevada.

João da Silva se tornou o instrutor modelo da autoescola. Mas, mesmo com todo reconhecimento, ele continuou humilde e nunca se sentiu o suprassumo da arte de ensinar a dirigir.

Geraldo Pereira - MUSEU/UFG

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