quinta-feira, 20 de maio de 2010

João e a vida como ela é

Desde pequeno João era encantado pelo amor. Não sabia explicar, apenas sentia. Mais tarde entenderia que é exatamente ilógico querer explicar algo que é só sentimento.

Atentava desde cedo a tudo que os adultos falavam sobre o tema, mas já intuía que o amor incondicional não dependia de preceitos filosóficos ou religiosos e que não eram necessários dogmas para comungá-lo. Frequentemente notava que a maioria dos adultos não praticava no dia-a-dia a ladainha que tanto discursava. Talvez a tarefa fosse árdua demais.

Para João, o amor era como o alimento, a água, a morada, o abrigo, uma necessidade básica. Sabia o menino que a espécie a qual pertencia dependia da interação, não somente pela necessidade de perpetuar-se, mas para sobreviver. Sentia que quando se ama, inevitavelmente, de alguma forma há satisfação mesmo que a recíproca não exista na mesma dimensão. Já entendia um pouco da vida...

Na juventude, identificou o egoísmo como uma característica humana, talvez como algo que estivesse na memória genética, trazido de um tempo em que era cada um por si e só. Frequentou bons colégios, foi aluno de alguns mestres e seguiu os estudos sobre as humanidades. Permitiu-se descobertas, entre elas a do amor passageiro, não menos importante e verdadeiro. Descobriu também que a vida é feita de encontros e despedidas. Que há várias formas e matizes no amor e seu valor é baseado na experiência individual. E o amor deixa de ser uma ideia para João e passa a ser algo factual e em constante construção.

Por ser um defensor do amor, João fora considerado pelos familiares um religioso, talvez por não aceitarem que era ateu. Pelos companheiros de faculdade fora um romântico do século XIX, talvez por não perceberem que era um exaltador da vida, inclusive no que ela tem de mais triste. Para algumas mulheres João não passou de um idiota, talvez porque não suportassem o fato de que “é impossível amar e ser feliz ao mesmo tempo”. Isso para elas não passava de mais um contrassenso Rodriguiano. Mas com outras mulheres conseguiu o que procurava, parcerias comprometidas pelo desejo e sentimento. Raros encontros que fazem valer os percalços da procura. E finalmente, pelos amigos João é considerado o João, o cara, como todos, cheio de defeitos e imperfeições, mas com um coração grande tomado de esperança e amor. Um sujeito de atos heroicos por amar sem idealizar e acreditar mesmo sem ter garantias.

Hoje João anda por aí, às vezes, acompanhado; às vezes, não, mas sempre apaixonado pela vida. Amadurecido, experiente, ainda é aquele menino e traz consigo um brilho no olhar. Segue a vida repetindo, entre tantos, seus versos preferidos de Adélia Prado: “alegre ou triste, o amor é a coisa que mais quero”.


Danyelle Nery Ramos - DDRH/UFG

Nenhum comentário:

Postar um comentário