quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A VIDA

A vida é o presente que ganhamos para desfrutar em conjunto.

Quando se vê, estamos procurando o outro...

Quando se vê, o outro se foi e não percebemos que ele estava ali, ao nosso lado.

Quando se vê, outros estão chegando e partindo de novo...

Quando se vê, ainda não alcançamos ninguém... Nem a nós mesmos...

Agora é tarde para voltar ao início.

Mas novos dias virão e não olharei para trás.

Seguirei em frente e jogarei pelo caminho pétalas de compreensão e de coragem.

Desse modo, reflito: não deixemos que a vida passe em vão e com ela o que é significativo.

Não há garantias, mas sempre há oportunidades fugazes, arriscadas, únicas.

(Paráfrase a partir do Poema de Mário Quintana – O tempo)

DanyelLe Nery Ramos - DDRH/UFG

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Imaginação é grande

A imaginação é grande e cabe

nesta janela sobre o luar.

O luar é grande e cabe

na relva e no chão do meu lar.

O meu lar é grande e cabe

no breve tempo de imaginar.
 
(Paráfrase de "O mundo é grande", de Drummod)
 
Luiz Lacerda Santos Júnior - HC/UFG

A VISITA

Ontem o Carlão - amigo de infãncia - resolveu dar as caras.
- Como vai Luizinho, tudo bem?

- Estou ótimo! Foi fácil achar a casa?

- Cara, foi dificílimo! "Fiz das tripas coração" para achar, mas como se diz, "quem tem boca vaia Roma", então, consegui chegar.

- Vamos, entre, seu quarto já está arrumado.

Ele acomodou-se. E fomos colocar a conversa em dia. Quando "caiu a ficha", nós tinhamos conversado cerca de cinco horas.

Existe um ditado que fala: "Quem semeia vento colhe tempestade". Eu acredito que quem semeia amizade colhe bons momentos.

Luiz Lacerda Santos Júnior - HC/UFG

MANÉ VENDE SONHOS

Mané veio do interior com sua mulher Maria e a filharada. Ele já trabalhava, há um ano, na Encol como servente de pedreiro.

Com a falência da construtora, Mané perdeu o seu ganha pão, o da sua mulher e da numerosa prole.

Desempregado, Mané bateu de porta em porta das firmas à procura de serviço. Depois de muita peregrinação, cansou e desistiu.

Como Maria fazia umas quitandas, ele teve uma ideia: a esposa fabricava sonhos e ele iria vendê-los nas ruas da capital.

Assim, ficou combinado e Maria fabricou os primeiros sonhos e Mané saiu pelas ruas de Goiânia oferecendo. No primeiro dia, ele vendeu todos os sonhos e conseguiu levar a realização para casa.

No segundo dia, Mané preparou a sua bandeja de sonhos e ganhou as ruas. Ficou parado na Praça do Bandeirante oferecendo o produto: olha o sonho, mate aqui a sua fome, compre sonhos! Não demorou muito e Mané viu um corre-corre de ambulantes com a senha: “corre, lá vem o rapa”! Mané não conhecia a dura realidade de quem ganhava a vida nas ruas e continuou tentando vender seus sonhos. Logo, chegaram os fiscais da prefeitura, acompanhados dos guardas municipais, tomaram a bandeja de sonhos de Mané e levaram.

Mané não entendeu a brutalidade dos fiscais e voltou para casa desolado. Ele não sabia que era proibido vender sonhos nos logradouros públicos.

No terceiro dia, ele voltou com o objetivo de vender seus sonhos. Mas já sabia que era proibido vender sonhos nas ruas e ficou atento. Quando ele ouviu a senha: “Lá vem o rapa”, cuidou de correr com seus sonhos, pois dessa venda, dependia a sobrevivência dele, da sua mulher e da filharada.

Geraldo Pereira dos Santos - MUSEU/UFG



Penso, logo...

Começa tudo de novo. Dormimos e acordamos e nem nos damos conta (às vezes) dos lugares por onde passamos, das pessoas que conhecemos e por que é mesmo que estamos aqui. Pensando tanto nisso tenho tido delírios de loucura, depressão e indagação profunda. Sinto-me estranha. Vivo questionando os motivos por que acordamos e nos movimentamos neste mundo. Teremos nós algum destino? Há algum significado oculto na nossa existência? Pensar é transgredir, segundo Lya Luft, famosa escritora gaúcha, mas ultimamente só tenho pensado e pensado. Às vezes, sinto-me privilegiada; noutras, ao contrário, covarde que segue sua vida pensando, e o pensamento, por mais sublime que seja, não muda, efetivamente, nada. É chegada a hora de transgredir. Transgredir = violar, infringir, desobedecer, mudar a ordem das coisas. Mas, a quantas pessoas atingimos com as nossa pequenas transgressões? Mesmo que sejam muito nossas, muito particulares. Quantas pessoas serão prejudicadas? Quantas serão beneficiadas? Haverá algum benefício? Não sei, ainda estou pensando. Lembra-te?! Aviso quando for transgredir.

Daniela Robalo Dias - FEN/UFG

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

QUEM SOU EU?

01 ano: aprendi que eu era meu corpo. Podia me mover pra lá e pra cá, coçar meu rosto e chorar, pra que alguém matasse minha fome.

02 anos: aprendi que eu não era meu corpo, eu era sentimentos. Tinha coisas que eram agradáveis e desagradáveis, existiam gostos bons e ruins, doces e amargos. E essas coisas eram sensações que meu corpo me dizia. Então eu não era meu corpo, eu era sentimento!

04 anos: aprendi que eu não era sentimentos, eu era mente. Eu não precisava ver um cachorro pra saber que ele existia. Bastava imaginar. E imaginar coisas boas me fazia me sentir bem, imaginar coisas ruins me deixava mal. Então eu não era sentimento, eu era mente!

10 anos: aprendi que eu não era mente, eu era um ser social. Além de raciocinar, eu tinha um papel. Eu era um estudante, filho dos meus pais – esse era meu mundo. Eu tinha um papel na sociedade, e tinha que cumprí-lo.

14 anos: aprendi que o meu papel na sociedade era limitante. Eu seria um corintiano, mas pra isso eu tinha que odiar palmeirenses. Mas eu não odeio palmeirenses! Então, se não sou um corintiano, quem sou eu? Comecei a perceber que esses grupos sempre têm falhas, e que eu, por ser capaz de percebê-las, tinha a obrigação de consertá-las.

18 anos: na faculdade aprendi que não adiantava consertar nada. Primeiro, porque não existe cultura certa e cultura errada. Elas simplesmente eram diferentes e eu tinha que respeitá-las.

21 anos: aprendi que, novamente, minha ideia estava incompleta. Realmente não existe certo e errado. Mas existe melhor e pior, e negar isso era um erro. Existem culturas que permitem as pessoas serem mais felizes e outras menos.

27 anos: aprendi que eu também não sou somente um ser social. Eu não sou mente. Eu pareço ser apenas um observador da realidade, e meu corpo, meus sentimentos, minha mente, meu papel na sociedade, nada disso me define completamente. Então, quem sou eu? O que somos nós? Será que um dia vou descobrir?

Gustavo Souto de Sá e Souza - EEEC/UFG

DEVANEIOS

Mateus nunca foi de questionar as ordens dos pais. Eles planejaram para ele um futuro perfeitinho: escolas particulares desde a infância, passou em uma faculdade federal renomada, e no próximo ano estaria formado, pronto para encarar o mundo. Tudo isso o preparou muito bem para ganhar dinheiro, e isso é o importante, não é? Afinal, “quando o dinheiro fala, tudo cala”.

Ele estagia na maior empresa de bebidas do país e tem emprego garantido assim que se formar. O rapaz prefere não pensar que trabalha numa empresa responsável por produzir as drogas que matam milhares de pessoas no trânsito e acabam com famílias pelo vício. “De pensar, morreu um burro” – dizia seu avô e, nesse caso, Mateus preferia concordar.

Agora, a um ano de se formar, percebe que lhe disseram tudo o que deveria fazer a vida inteira, até aquele ponto. Ele deveria estudar, se formar e arranjar um emprego. Mas e depois? Ninguém disse nada sobre isso. A que ele vai se dedicar? O que ele realmente gosta? Vai se tornar um presidente de uma multinacional? Qual a emoção nisso?

“De pequenino é que se torce o pepino”, os pais dele diziam. Ele gostava de tocar guitarra, mas seus pais nunca o incentivaram, porque isso não proveria sustento. Ele gostava de pintar também. E de escrever. Mas nada disso passou pelo crivo rígido dos pais, e foi jogado às traças. Agora, Mateus não tem amor por seu emprego, não tem amor por dinheiro, não tem amor por viver a vida que foi planejada por outras pessoas.

Mateus tem medo do que está por vir, da vida que vai continuar vivendo. Daqui um ano ele vai estar livre de suas obrigações com seus pais e pensa seriamente em se formar e viajar para a Austrália, acampar, viver um pouco, escrever e aprender a tocar guitarra. Hoje, ele já sabe como se sustentar muito bem; então, se sente mais preparado para encarar essa aventura. Mais difícil será encarar seus pais.

Mas se não fossem eles, ele não se sentiria tão pronto assim. Se não tivesse passado por tudo o que passou, não teria esse forte ímpeto de viver a vida de verdade como ele bem deseja. Dizem que “para bom mestre não há ferramenta”. Será que isso tudo não foi planejado pelos seus pais? Toda a rigidez seria para ele aprender a dar valor ao que é dele? Bem, “a esperança é a última que morre”!

Gustavo Souto de Sá e Souza - EEEC/UFG

QUE SITUAÇÃO!

O atual momento que está vivendo o Goiás Esporte Clube, é de deixar a grande massa esmeraldina, a maior torcida do centro-oeste brasileiro, com "cara de tacho", porque, por mais que tente, a equipe não consegue "tirar o pé da lama". Quem apostava que, este ano, o Goiás pudesse até ser campeão brasileiro, "deu com os burros n'agua", pois a equipe, até agora, só nos envergonha e é a lanterninha da competição. "Pelo andar da carruagem", esta será a tendência até o final do brasileirão! (02/09/2010).

Antonio Paulino Ferreira - TRANS-HC/UFG

Meu último inverno

Oh! Que saudades que tenho
Do derradeiro inverno,
Que as estações não trazem mais!
Que brisa, que frio,
Naquelas manhãs nubladas,
Acompanhado de um bom filme,
Debaixo do cobertor!

As tardes eram pacatas,
As noites congelantes,
Que chegavam a quatro graus.
As roupas: um requinte!
O ceu: chuvoso!
O banho: deliciosa tortura!
Dormir: uma benção!

Verdadeira lástima o homem
Ter aquecido tanto o mundo
Ter transformado nosso inverno
Em um verão sem chuva,
Em uma tortura constante
Que só encontra paz
Meio ao ar-condicionado!

Oh! Que saudades
Do derradeiro inverno,
Que as estações não trazem mais!
Que brisa, que frio,
Naquelas manhãs nubladas,
Acompanhado de um bom filme,
Debaixo do cobertor!

Gustavo Souto de Sá e Souza - EEEC/UFG

Para sobreviver uma grande batalha

Com dificuldades e lutas E das barreiras encontradas
Eu fiz a minha vida à custa
Das experiências lapidadas.

E na caminhada
Para a vida futura
Ergui defesa imensurável
Que me afasta da amargura.

Não sei se sou forte
Se luto ou sigo em frente
(Peço ajuda a Deus e seu Filho amado)

Mas é certa a minha alegria e sorte
Que devo a um pedacinho de gente:
─ Mamãe eu te amo! É a voz do meu filho abençoado!

Nercy Lopes Chaveiro Cardoso - FF/UFG

DECEPÇÃO E LÁGRIMAS

Há muitos anos atrás uma experiência desagradável deixou-me traumatizado com a palavra “revista”. Tudo começou, quando minha professora primária falou-nos sobre tal revista que ela iria nos dar na sexta-feira seguinte, ou seja, daí a três dias. Ela pediu que todos nós avisássemos nossos pais sobre o que iria acontecer e que comparecêssemos todos limpinhos e preparados para receber a revista. Quando eu voltei para casa, fui saltitando de tanta alegria e com vontade de contar logo a novidade para minha mãe. Chegando à minha rua, fui logo avistando a minha casa, era amarela e já estava muito desbotada com o passar dos anos, as portas e as janelas, de madeira rústica, estavam corroídas pela ação do tempo. Na porta, deitado sobre a terra, estava o meu cachorro, o Furreca, um vira-lata prá lá de amigo. Entrei correndo pela porta dos fundos e logo avistei minha mãe fazendo a comida no fogão à lenha, cujo cheiro bom resplandecia pelo ar.
_ Mãe, eu vou ganhar revista da minha professora, ela pediu pra avisar a senhora e o meu pai. Pediu pra irmos limpinhos e arrumados na sexta-feira.
_ É mesmo filho? Ela falou que tipo de revista? Tomara que seja igual a da dona Tereza, a modista, com muita figura colorida.
_ Pode deixar mãe, que eu vou pedir uma dessas pra senhora e te darei de presente.
E todo eufórico fui para o meu trabalho. Eu ganhava a vida como engraxate no centro da cidade. Eu fui logo contando a boa nova pra todos os meus clientes que apareceram naqueles dias que antecederam o fatídico dia. Todos eles me davam tapinhas no ombro como que me parabenizando.Quando chegou o dia eu me arrumei todo, tomei banho e usei até um poço da água de colônia, de minha mãe, atrás das orelhas.Na sala de aula a professora pediu que ficássemos em silêncio que iria começar o que ela prometera. Eu estava sentado no primeiro banco da fila, perto da porta e fiquei espiando lá fora para ver as revistas que iriam chegar. Tão concentrado eu estava que não escutei minha professora me chamar.
_Joaquim, venha cá!
Eu levantei e fui até ela que sem nada dizer colocou as mãos na minha cabeça e começou a mexer nos cabelos como se procurasse alguma coisa escondida ali. De repente, ela parou e de forma enérgica falou: eu não disse para se preparar para a revista hoje? Em seguida chamou dona Rosa, uma auxiliar da escola, que me pegou pelo braço levando-me até o banheiro e lá colocou minha cabeça debaixo de uma torneira de água fria e começou a ensaboar meu cabelo, com um sabonete de cheiro ruim e muito forte, era o tal mata piolho. Entre lágrimas e muita decepção, voltei para a minha humilde casa, sem levar a revista que minha mãe tanto queria.

Anay Borges de Sousa - FF/UFG

Minha madrinha

De ti, minha madrinha, Eu nunca esquecerei,
De Pititinha tu me chamavas,
De querida te chamarei.
A ti, minha tia preferida,
Dei o meu verdadeiro amor.
Espero que esse amor
Seja um laço que perdure para sempre.
Estarei esperando pelo dia
Entre flores e lágrimas,
Em tempos de despedida
Te encontrar no Paraíso.

Anay Borges de Sousa - FF/UFG

SAUDADE

Adeus. Um último abraço. Virei as costas,mas continuei ali.
O tempo passa, mas a vida não caminha.
Por que as lágrimas teimam em cair?

Você se foi. Nossa vida se foi. Tudo se foi.
Eu vou, teimosa em continuar
Consumindo-me em mágoas, ressentimentos e desilusão
Cadê o caminho da saída?
Não basta dizer não.

A solução não surge
Nenhuma janela se abre
O sol brilha,mas nem sinto sua luz
O amor perdeu o sentido
Sentindo-me viva, ausente de mim mesma.

Morro aos poucos
Como numa vingança cruel
A dor aumenta e não corro
Meu ar respira fel
Mesmo revel me perco na angústia
Dos pensamentos inconsistentes como num véu.

Tudo borrado, sem cor, nem definição
Desbotando a vida dentro de mim
Esvaindo-me sem lutar
Perdida.
Perdi, de mim mesma e de tudo em ti.
Entreguei-te, querendo ficar.
À Deus.

Leila Abou Salha - FF/UFG

À ESPERA

E agora, Sakinah? As tradições te assombram num pesadelo
A morte ronda e beija tua face
As pedras serão lançadas, mas sua sorte se foi.
Que pecado sai de ti nesse devaneio?
Um amor, uma irresistível tentação
Nem o tempo, nem o silêncio, nem a verdade,
Nada mais faz sentido.
Se vivesse no Ocidente, não seria mais que mera especulação,
Nenhuma assombração.
Mesmo que não passe de um engano
Em nome do amor e em nome do ódio
De uma vida jogada ao limbo.
Quão lindo sentir vida, mesmo às custas do fim?
Você foi escolhida pela vida para ser símbolo
De resistência muda aos ditames da farsa.
Faça!
Um senão, um talvez, nada te impediu de sentir-se viva,
Mesmo sorvendo-a ao seu fim.
Assistimos sua dor,
Torcendo que aquele amor tenha merecido sua insana angústia,
Reprovando esse rancor e tanto desamor.
Sakinah continua, abaixada, à espera de justiça.

Leila Abou Salha - FF/UFG

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

RETRATO DE AGORA

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim forte, assim marcado, assim vivo,
nem estes olhos tão esperançosos,
nem o lábio colorido.

Eu não tinha esta distração,
tão cara e leve e corajosa;
eu não tinha este coração
que não mais implora.

Eu me dei por esta transformação
tão arriscada, tão rara, tão merecida:
- Esse é o momento em que
me abro para a vida!

Danyelle Nery Ramos - DDRH/UFG

MISTURA FINA

O Brasil é país continental dada suas dimensões geográficas, mas não somente: o Brasil é sui generis por abarcar, na sua formação cultural, um mosaico de povos, línguas, costumes, crenças, tradições. Isso o transformou numa nação plural, principalmente no que se refere à diversidade humana e, consequentemente, aos aspectos epistemológicos, políticos, ideológicos e religiosos de sua população.

Do norte ao sul muitas são as influências; no entanto, o brasileiro convive entre si de forma inusitada: católicos com protestantes, espíritas kardecistas com umbandistas, ateus com budistas, judeus com mulçumanos e, claro, sertanejos com roqueiros, funkeiros com pagodeiros, eruditos com populares. Na política, nem é preciso mencionar, o Congresso Nacional é uma colcha de retalhos de tantos partidos e siglas ideológicas, uns dogmáticos, outros nem tanto e, ainda, há os que nem sabem o que isso significa.

No esporte, amamos o futebol e vibramos com o automobilismo, improvisamos rede na rua para jogar vôlei, entendemos de ginástica e até campeonato de bolinha de gude nos une em frente à televisão. Adoramos uma feijoada, mas não deixamos escapar um sushi. Bebemos cerveja, vinho, cachaça, açaí, santo daime, garapa e até jesus.

Nosso perfil psicológico é engraçado... por um lado, somos uns “narcisos às avessas”, como dizia Nelson Rodrigues, de um pessimismo ao nível “se tudo pode dar errado, dará mesmo!”. Enaltecemos tragédias, nem sempre reconhecemos nossos avanços... tudo nosso é ruim: problemão de autoestima. Por outro lado, há o deslumbramento, a crença religiosa, o fascínio por novela, futebol (sempre somos os melhores jogadores do planeta) e muitos pensam e chegam até a pronunciar que Deus é brasileiro... Enfim, nosso melhor momento é quando essas duas partes se encontram e fundem-se. O resultado é o retrato do brasileiro genuíno: solidário, trabalhador, inventivo, engraçado, inteligente, esperançoso, alegre.

Nossa sorte foi e é exatamente a miscigenação, ter sangue indígena, africano, europeu, asiático, árabe e por ai vai... Somos muitos, somos diferentes; mas, ao mergulharmos nas águas da “mistura”, vimos à tona sempre e ainda mais brasileiros.

Danyelle Nery Ramos - DDRH/UFG

O despertar do taxista

Aroldo acordou sobressaltado, eram seis da manhã, olhou para o despertador e constatou que mais uma vez o aparelho não funcionou. Estava outra vez atrasado e às pressas saiu de casa com um pedaço de pão numa mão e na outra a chave do carro. Desde o início do mês, esse era seu ofício: dirigir um táxi.

Mesmo sofrendo com a escala de 24 horas dentro do carro, dia sim, dia não, Aroldo conhecia bem as vias da metrópole e era um exímio motorista. O rapaz de quase trinta anos formou-se em engenharia e sempre adorou dirigir, mas nunca havia passado por sua cabeça trabalhar num táxi. No entanto, desempregado por meses, a proposta do primo Juarez, taxista veterano e que por motivos de saúde precisou se aposentar, veio na hora certa.

Era manhã de inverno e Aroldo chegou até a Praça da República, seu ponto no centro da cidade. Logo ao estacionar a Paraty de Juarez foi abordado por um senhor grisalho, aparentando uns sessenta anos de idade que entrou no carro sem dizer uma só palavra.

- Bom dia, Senhor! Disse Aroldo observando pelo retrovisor o homem sério e quieto.

- Bom dia. Respondeu o passageiro com a voz baixa.

- Aonde vamos? Indagou o taxista.

- Não sei ao certo, estou sem destino. Toca aí... Disse o senhor.

Mesmo achando inusitado o pedido, Aroldo deu partida e lentamente entrou com o carro na avenida já repleta de veículos. O barulho do trânsito tomava conta do ambiente. Lá fora a cidade estava viva. Pessoas atravessando as vias, motociclistas ultrapassando os carros, ônibus lotados seguiam seu itinerário. No meio de tantas sirenes, apitos, fumaça, aquilo já era como música na rotina do taxista, uma sinfonia louca.

Após minutos de silêncio absoluto dentro do carro, Aroldo ouve um choro profundo e em seguida um desabafo:

- Amo esta cidade! Acordei cedo e fiquei na praça, sentindo este cheiro cinza que me pertence e ao qual pertenço. Estou de partida, me mudarei para o interior com minha filha e só quis contemplar esta paisagem, como uma despedida. Entrei no seu táxi porque começou a garoar e já garoava dentro de mim. Sempre vivi aqui, me fiz na dureza da selva de pedra, amigos, família, batalhei por uma profissão, trabalhei, sofri, fui feliz. Tudo lá fora é o resumo do que fui, do que sou e do que sempre serei... Disse com a voz embargada.

Aroldo ouviu e guiou. Levou aquele homem pelos pontos do velho centro da cidade e percebeu que nunca havia observado a beleza deste caos, da mistura de sortes, sotaques, sorrisos e sofrimentos. Fitava sempre os prédios, a estrutura física, a imponência do concreto, a loucura do trânsito, mas nunca olhava para as pessoas, exatamente as mesmas que, como o ilustre sexagenário a bordo, constroem, zelam, suportam, embelezam, sofrem e usufruem da cidade. As pessoas tinham sido até, então, meros figurantes para Aroldo.

Naquele momento, o engenheiro taxista resolveu tirar o dia de folga e junto com seu passageiro rodou horas por aquele cenário. O passageiro contou estórias de um tempo remoto da cidade, fatos históricos e pessoais e falou da saudade que iria sentir longe dali.

Aroldo começou a sentir um pouco mais de si e do que é a cidade de São Paulo e percebeu a importância que há na relação das pessoas com o espaço que habitam. Coisa que raramente se aprende na faculdade e, que, a partir daquela corrida, despertou o olhar do taxista.

Danyelle Nery Ramos - DDRH/UFG

terça-feira, 21 de setembro de 2010

AS SETE FALTAS QUE AMEAÇAM O ENSINO BRASILEIRO

1- FALTA DE INTERESSE
Os alunos brasileiros, na sua maioria, estudam por obrigação e não por vontade própria. Com isso, eles funcionam sob pressão, às custas de advertência e punições para exercer o que seria mais que a obrigação destes. Os estudantes ainda não entendem que eles precisam, de fato, aprender e não apenas “bater ponto”, em sala de aula, e ficar acima da média para aprovação.

2- FALTA DE BONS PROFESSORES
Boa parte dos professores, principalmente do ensino público, não possuem capacitação pedagógica voltada para o exercício da atividade, tais como cursos de psicologia, pedagógica, especializações, mestrados, doutorados, dificultando e prejudicando, dessa forma, a transmissão de conhecimento aos discentes.

3- FALTA DE COMPROMISSO
Um verdadeiro mal que aflige os alunos no Brasil, tanto dos ensinos fundamental e médio quanto dos cursos universitários, é a ausência de compromisso pessoal à sua formação, gerando como consequência principal uma ignorância e deficiência generalizada nas mentes que deveriam possuir algum saber.

4- FALTA DE DISCIPLINA
O comportamento de cada aluno é o reflexo de sua moral adquirida ao longo de sua vida pregressa. Isto infere que a educação familiar é o alicerce para a formação do caráter do aprendizado. No mundo atual, estamos vivendo uma crise de identidade familiar, onde os valores como respeito, obediência, temor, educação, honestidade estão de certo modo corrompidos, levando à falta de disciplina por parte dos alunos.

5- FALTA DE RECURSOS MATERIAIS
A educação ainda vive um drama com relação à infra-estrutura. As escolas passam por décadas sem uma reforma; as carteiras estão em situação precária, quando elas existem; nos pátios quase nunca existem os tradicionais “parquinhos”; os professores mal têm giz e quadro para darem as suas aulas; os livros não podem ser trocados na mesma frequência que em uma escola particular, sem dizer das inúmeras depredações realizadas pelos próprios alunos.

6- FALTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS
É certo que houve muito incentivo na formação superior nos últimos anos, com o ProUni e as questionáveis e polêmicas “cotas” para as Universidades Públicas. Mas, como fica a educação básica que é a base dos estudos posteriores? É preciso investir na educação e em profissionais compromissados com a qualidade. Todas as esferas de governo (municipal, estadual e federal) precisam priorizar a educação para que o Brasil cresça de verdade.

7- FALTA DE ÉTICA
Ainda que o ensino de qualidade seja o pilar fundamental da ciência, muitas vezes, pode-se perceber que em determinados conteúdos a ideologia dominante impõe-se totalitariamente, dando o seu tom e interpretação particular aos fenômenos de seu interesse. Assim, corre-se o risco de, ao invés de levar aos que desejam a luz da verdade, opera-se diametralmente o oposto, formando-se multidões de alienados e mutilados intelectuais.


Cássio Melo Martins - HC/UFG
Jeovan Pereira das Virgens - EEC/UFG
Larissa Matuda Macedo - ICB/UFG

Eu sei, e não devia

Eu sei que a gente se acostuma no trabalho, e não devia.

A gente se acostuma com a falta de compromisso, o não cumprimento do horário e da assiduidade. Isso, em virtude de não haver cobrança rígida pela chefia imediata, como acontece nas iniciativas privadas.

A gente se acostuma com a falta de incentivo por parte do poder público, de uma política que visa reconhecer o bom desempenho do servidor, levando-o ao desânimo e a apatia.

A gente se acostuma com a competição entre os colegas, com a falta de amizade, a falta de solidariedade, de integração e companheirismo para desenvolver um trabalho em equipe.

A gente se acostuma em conviver com os hábitos pessoais de cada um, com a forma de tratamento entre os colegas, que nem sempre é respeitosa.

A gente se acostuma com a burocracia e com a falta de uma política igual para todos os servidores.

A gente se acostuma com a falta de interesse de alguns colegas, que se limitam a desenvolver determinadas atividades e não aceitam novas tarefas e desafios.

A gente se acostuma a marcar nossos compromissos pessoais para serem resolvidos no horário de trabalho, achando que é natural.

Eu sei que existem esse vícios no serviço público; porém, devíamos contribuir mais com a nossa parte boa.
 
Anay Borges de Souza et al - FF/UFG

O santo dos subúrbios

A história de Tomás, um adolescente que morava nos subúrbios, começa no dia que ele tem uma discussão horrível com sua mãe. O tópico era o divórcio, que já completava 2 anos, e como ela havia se entregado ao álcool. Durante a briga, ele percebeu a quantidade de sonhos e ilusões que as pessoas, a mídia, o mundo implantaram em sua alma. Sonhos de família estável, dinheiro, fama e estabilidade. Sonhos para uma ou duas pessoas que conseguissem. Ilusões para um milhão de pessoas que não conseguissem.

Nesse dia Tomás fugiu de casa. Decidiu começar uma revolução. Queria mostrar ao mundo todas as mentiras, que sonhos vazios da mídia não passavam de ilusões. O garoto perdeu as esperanças e ganhou força através do ódio de se sentir enganado a vida toda. Entrou em uma gangue, e ficou conhecido como Tomé, aquele que não acreditava em mais nada – só vendo mesmo. Ele se via como um santo, que escrevia suas profecias nos muros da cidade com sua lata de spray e chutava as placas de propaganda eleitoral com seu tênis All-Star.

Nessa gangue conheceu uma garota. Famosa por sua rebeldia e por fazer justiça. Logo ele se apaixona por aquela que era a garota-problema, assim como ele era o garoto-problema. Nem mesmo sabia o nome dela, mas já sentia que era ela a pessoa certa. Tentando ganhar a atenção dela, ele se prontifica a participar de um ataque terrorista que ela planejou, de incendiar a mansão de um milionário famoso na cidade.

No momento de começar o incêndio, a consciência de Tomás aflora em Tomé. Ele se pergunta aonde tudo aquilo iria levar. As mentiras parariam depois disso? As pessoas seriam mais felizes? Afinal, essa era sua missão: levar a verdade ao mundo, e não causar a destruição. Mas por outro lado, sua paixão também gritava em seu peito. Se ele não acendesse aquele pavio, jamais conseguiria a atenção da garota dos seus sonhos.

Tomás falou mais alto e, conforme tinha previsto, perdeu sua chance com a garota rebelde. Ficou marcado como “garotinho rico”, que jamais entenderia a realidade das ruas. Deprimido, suas pregações começaram a ter um caráter mais niilista. Dizia a todos que estavam perdidos, que não havia Deus nenhum que viria nos salvar. E que, por isso, se nós não começássemos a nos mover, nada iria mudar.

Uma batalha entre Tomás e Tomé era travada na mente do garoto. Ser o garoto pacato que todos amam e ignoram, ou ser o punk que faz tudo o que deseja e é odiado? Sem perceber mudanças reais no mundo, ele decidiu que Tomé deveria morrer. Voltou para casa, como Tomás, e foi recebido de braços abertos por sua mãe. Decidiu lidar primeiro com os problemas em sua casa, que talvez assim conseguisse realmente mudar alguma coisa no mundo algum dia.

Hoje, Tomás trabalha numa empresa de fotocópias no centro da cidade. Sustenta a casa, enquanto sua mãe participa de reuniões dos Alcoólatras Anônimos. E sempre, antes de dormir, lembra-se daquela garota que queria mudar o mundo, assim como ele. Será que um dia ela vai conseguir fazer as pessoas verem a verdade?

Essa é a história de Tomás, que não se arrepende de não ter incendiado a casa do milionário. Não se arrepende de ter fugido de casa. Arrepende-se mesmo é de nunca ter perguntado o nome daquela garota, que até hoje não saiu de sua cabeça.

Gustavo Souto de Sá e Souza – EEEC/UFG

Uma grande estreia

Em um dia quente e tranquilo, um jovem palhaço recém-casado estava sentado num sofá, bebericando wisky gelado, o seu passatempo preferido, e aguardando o momento heroico de sua grande estreia.

Enquanto pensava sobre a vida, o casamento, as responsabilidades de sua profissão, as obrigações, seus deveres, sua mulher chegou de mansinho e lançou-lhe um olhar meigo, doce e disse:

- Você tem ideia de como será sua apresentação diante da plateia? Ele lhe respondeu que, apesar de estar um pouco paranoico e que só de lembrar do show, sentia um friozinho na barriga que lhe dava mal-estar, enjoo. O jovem palhaço levantou-se do sofá e acrescentou:

- Sou um palhaço e não posso desapontar a minha plateia que, juntamente com você minha esposa, minha joia maravilhosa, será tudo o que necessito para ter força, aumentar minha autoestima, neste momento importante.

À medida em que a hora do espetáculo chegava, ele se sentia mais autoconfiante. Porém, passado mais ou menos cinquenta minutos para o grande momento, eis que o artista, já inseguro, entra no palco rapidamente e para. Num esforço subumano, olha para o público, ao ver os olhares atentos daquelas crianças e dos adultos se sentiu muito corajoso, pois percebeu tamanha responsabilidade. Naquele momento, não poderia decepcionar a sua plateia. Seria a grande oportunidade de mostrar o seu novo trabalho.

Finalmente, com o apoio de sua amada e do seu público querido, num gesto majestoso, levantou a cabeça dizendo:

- Respeitável público, começa o nosso espetáculo, hoje será uma grande estreia!

Nercy Lopes Chaveiro Cardoso - FF/UFG