terça-feira, 21 de setembro de 2010

O santo dos subúrbios

A história de Tomás, um adolescente que morava nos subúrbios, começa no dia que ele tem uma discussão horrível com sua mãe. O tópico era o divórcio, que já completava 2 anos, e como ela havia se entregado ao álcool. Durante a briga, ele percebeu a quantidade de sonhos e ilusões que as pessoas, a mídia, o mundo implantaram em sua alma. Sonhos de família estável, dinheiro, fama e estabilidade. Sonhos para uma ou duas pessoas que conseguissem. Ilusões para um milhão de pessoas que não conseguissem.

Nesse dia Tomás fugiu de casa. Decidiu começar uma revolução. Queria mostrar ao mundo todas as mentiras, que sonhos vazios da mídia não passavam de ilusões. O garoto perdeu as esperanças e ganhou força através do ódio de se sentir enganado a vida toda. Entrou em uma gangue, e ficou conhecido como Tomé, aquele que não acreditava em mais nada – só vendo mesmo. Ele se via como um santo, que escrevia suas profecias nos muros da cidade com sua lata de spray e chutava as placas de propaganda eleitoral com seu tênis All-Star.

Nessa gangue conheceu uma garota. Famosa por sua rebeldia e por fazer justiça. Logo ele se apaixona por aquela que era a garota-problema, assim como ele era o garoto-problema. Nem mesmo sabia o nome dela, mas já sentia que era ela a pessoa certa. Tentando ganhar a atenção dela, ele se prontifica a participar de um ataque terrorista que ela planejou, de incendiar a mansão de um milionário famoso na cidade.

No momento de começar o incêndio, a consciência de Tomás aflora em Tomé. Ele se pergunta aonde tudo aquilo iria levar. As mentiras parariam depois disso? As pessoas seriam mais felizes? Afinal, essa era sua missão: levar a verdade ao mundo, e não causar a destruição. Mas por outro lado, sua paixão também gritava em seu peito. Se ele não acendesse aquele pavio, jamais conseguiria a atenção da garota dos seus sonhos.

Tomás falou mais alto e, conforme tinha previsto, perdeu sua chance com a garota rebelde. Ficou marcado como “garotinho rico”, que jamais entenderia a realidade das ruas. Deprimido, suas pregações começaram a ter um caráter mais niilista. Dizia a todos que estavam perdidos, que não havia Deus nenhum que viria nos salvar. E que, por isso, se nós não começássemos a nos mover, nada iria mudar.

Uma batalha entre Tomás e Tomé era travada na mente do garoto. Ser o garoto pacato que todos amam e ignoram, ou ser o punk que faz tudo o que deseja e é odiado? Sem perceber mudanças reais no mundo, ele decidiu que Tomé deveria morrer. Voltou para casa, como Tomás, e foi recebido de braços abertos por sua mãe. Decidiu lidar primeiro com os problemas em sua casa, que talvez assim conseguisse realmente mudar alguma coisa no mundo algum dia.

Hoje, Tomás trabalha numa empresa de fotocópias no centro da cidade. Sustenta a casa, enquanto sua mãe participa de reuniões dos Alcoólatras Anônimos. E sempre, antes de dormir, lembra-se daquela garota que queria mudar o mundo, assim como ele. Será que um dia ela vai conseguir fazer as pessoas verem a verdade?

Essa é a história de Tomás, que não se arrepende de não ter incendiado a casa do milionário. Não se arrepende de ter fugido de casa. Arrepende-se mesmo é de nunca ter perguntado o nome daquela garota, que até hoje não saiu de sua cabeça.

Gustavo Souto de Sá e Souza – EEEC/UFG

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