sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Parodiando Drummond

A planta foi comida pelo gafanhoto, que foi comido pelo pássaro, que foi comido pela cobra, que foi comida pelo gavião que pensava ser amigo de João.

João matou o gavião, foi picado pelas cobras, perdeu a visão dos pássaros, os gafanhotos comeram toda a sua plantação, morreu de fome e apareceram decompositores que não tinham entrado na história.
Aretuza Pereira Silva - FACE/UFG

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Parodiando Drummond

Renato empurrava o trabalho para Karina, que estava com preguiça e empurrava para Marcos, que estava ocupado, jogando paciência no computador, que repassava para Wilson, que reclamava estar na hora do “cafezinho”, que transferia a função para Laís, que estava ao telefone com o namorado.
Renato foi promovido, Karina pediu exoneração, Marcos continua jogando paciência, Wilson solicitou licença-prêmio, Laís entrou em depressão por ter sido substituída por Isadora, a única que trabalhava e nem tinha entrado na história.

Ludmilla Otaviana de Sousa e Silva - IF/UFG

Eterna inocência

Tudo começou, quando Manoel Passos de Castro, engenheiro agrônomo que graduou-se, com muita dificuldade, em 1952, tendo que deixar a capital de Goiás, cidade de sua família e buscar novos horizontes no Estado do Paraná, onde conheceu e se casou com a professora primária Adejair Souza de Castro.
Dessa união, nasceu Silnéa Victória, já em Goiânia. Primeira filha, primeira neta, primeira sobrinha. Ela era o centro das atenções de seus inexperientes tios goianos. As expectativas eram tantas que… demoraram a perceber o atraso em seu desenvolvimento mental em relação às demais crianças. Ao pronunciar suas primeiras palavras, mesmo que erradas, todos achavam muito engraçadinho, mas, com o passar do tempo e em idade escolar, a garota pronunciava café de ‘tafé’, carro de ‘tarro’ e, assim por diante. Algumas vezes, ficava irritada pelas inúmeras correções que lhe faziam. A frustração e a impaciência começaram a aparecer. Então, a família constatou, através de testes psicológicos, sua deficiência intelectual.
Os anos escolares para os colegas de Silnéa corriam normalmente; no entanto, os seus foram seguidos de reprovações e distorções idade/série. Repetiu mais de uma série, por várias vezes. Depois, os pais dela acharam que era hora de acompanhamento à parte. Nesse estágio da vida, deixava a infância (fase das descobertas) para a adolescência (fase de introspecção). Assim, contrataram professores particulares e foi necessário a mudança para uma escola com um ensino especial.
O ensino especial foi um marco em sua vida, com proposta de atividades lúdicas e diferenciadas. Ali, não só a menina, mas todos de sua família aprenderam a lidar com as limitações que ela apresentava. Diante disso, houve um grande avanço em seu desenvolvimento intelectual.
O esporte para o portador de necessidade especial, na vida dessa eterna inocência, já com 20 anos, foi uma atividade que lhe proporcionou um salto em sua independência, pois, antes dessa prática, não conseguia ir para a escola sozinha, atravessar uma rua movimentada (algo que lhe era apavorante,sem a presença de um adulto) e viajar para outra cidade. Ou seja, para qualquer lugar que a jovem ia, sempre estava acompanhada.
Hoje, com os seus 56 anos, Silnéa superou muito as nossas expectativas. Tem uma memória invejável, para decorar datas de aniversários, que até a chamamos de agenda ambulante. Sonha em fazer uma faculdade de direito ou agronomia; entretanto cursa ainda as séries iniciais da Educação de Jovens e Adulto (EJA), à noite.
Através do processo do ensino profissionalizante especial, Néia (como é chamada carinhosamente pela família e os mais íntimos) faz curso de auxiliar de cozinha pela manhã; já fez tapeçaria, relações interpessoais, informática, entre outros.
Gosta de ler, estudar, escrever, viajar, ir para a igreja, porém ainda continua na sua eterna inocência, cultivando alegria e esperança nos olhos dos adultos e no coração das crianças.

Silmara Epifânia de Castro Carvalho (Silepi) - IME/UFG

Superação

Em 2003, sentado na beira do asfalto, fiquei imaginando como aquelas pessoas conseguiam comprar carrões e andar tão bem arrumadas todos os dias. Pensava que deviam ser muito especiais, ser altamente intelectuais ou até mesmo super-heróis e que eram extremamente felizes.
Nessa época, com 25 anos, trabalhava de gari, as pessoas nem percebiam minha existência, mesmo assim, sorria para aquelas que sem querer passavam o olhar em minha direção, principalmente as moças que faziam uma cara de nojo quando eu mandava beijinho para elas.
Naquele dia, resolvi que iria ser feliz, ganharia muito dinheiro, teria uma casa linda e um carrão na garagem. Mas, por onde começar? Ir para o exterior? Estudar? Virar dançarino? Apresentador? Sem dinheiro, nada podia fazer.
Vários dias se passaram e a angústia aumentava, tinha que tomar uma decisão. Aliás, que palavra que não me largou mais: decisão... sempre ela batendo em minha porta. Mas, o dia chegou, e resolvi que iria entrar na faculdade.
Minha família me perguntava o que faria com ‘isso’, como iria pagar, que eu seria motivo de gozação, mas pensei: pelo menos seria o centro das atenções.
Foram quatro anos e a única coisa que mudou foi o trabalho, pois entrei em um estágio. No início, feliz da vida, mas, depois, percebi que eles queriam apenas reduzir os custos com funcionários e que findo o prazo estaria desempregado.
Formatura maravilhosa, aula da saudade, muita festa, porém ainda era um simples auxiliar administrativo de uma empresa que dizia ter que cortar o almoço por causa da crise. E o pior ou melhor, não sei, ainda estava por vir, recebi a indagação de uma tia: “O que fazer com esse curso? Qual a sua intenção? Você é bem remunerado?”. Tipo assim, você ganha salário mínimo depois desse esforço todo.
Mais uma vez, vesti-me de gari. Naquele momento me sentia um lixo. Será que tinha desperdiçado todos aqueles anos? E agora, o que fazer? Tentar uma vaga como trainee? Estudar Inglês? Estudar para concurso? Hum, concurso! Parece ser uma boa opção.
Entrei em um cursinho, estudava todos os dias possíveis, sábado, domingo e feriados. Já era visita na casa dos meus pais, cortei amizades, namoro nem pensar. O isolamento era inevitável, tinha que resolver minha vida.
E, finalmente, consegui: passei em um concurso, comprei um carro novinho, coloquei o melhor som para tirar toda aquela aura de fracassado. Liguei a música no máximo; enfim, a vida perfeita.
Contudo, o tempo foi passando. Meus amigos se foram e não tem tempo para mim. Não tenho nada de especial. Inteligente estou, feliz nem tanto. Super-herói jamais serei e dentro de um carrão, com uma música triste ao fundo, pensando em tudo e, ao mesmo tempo, em nada, esperando o sinaleiro abrir e tentando enxergar o que tem por vir. De repente, olhei para o lado, um gari sorrindo...

Aretuza Pereira Silva - FACE-UFG

Parodiando Drummond

Pedro ficava com Carla, que ficava com André, que ficava com Maria, que ficava com Carlos, que ficava com Antônio, que ficava com Arlete, que ficava com só com ele.
Pedro foi para o Seminário, Carla foi para a África, André tornou-se político, Maria desapareceu no meio do mar, Carlos foi assassinado, Antônio hoje é professor, Arlete tem um filho, e se casou com Joana, que nem tinha entrado na história.


Maria Aparecida de Almeida Silva – HC/UFG

Bem-aventuranças da vizinha

Bem-aventurada a vizinha que mora ao meu lado!
Bem-aventurada a vizinha que há empatia comigo!
Bem-aventurada a vizinha que compartilha sua vida comigo!
Bem-aventurada a vizinha que busca meus filhos na escola!
Bem-aventurada a vizinha que recebe a minha correspondência!
Bem-aventurada a vizinha que olha a minha casa, enquanto trabalho!
Bem-aventurada a vizinha que vai à padaria e também trás o meu pão!
Bem-aventurada a vizinha que molha as minhas plantas durante as férias!
Bem-aventurada a vizinha que espera eu chegar à noite para se recolher!
Bem-aventurada a vizinha que mantém sua área limpa para não sujar a minha!

Maria Aparecida de Almeida Silva - HC/UFG

Saudade dos meus sete anos

Que saudade de minha infância querida!
Que os anos não trazem mais
Ao invés de preparar aulas,
Apenas estudar as lições e coisas e tais
Que saudade de minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Ao invés de estudar para as incansáveis aulas de química e física
Apenas as quatro operações e nada mais
Tomar ônibus, enfrentar trânsito?
Isto não existia por lá
No máximo andar a pé, subir numa bicicleta e pedalar
Ao invés de enfrentar alunos, cuidar de equipamentos e preparar solução
Pensava apenas em ir até a padaria comprar pão
Bancas de TCCs, e monografias?
Isso também não tinha lá
Tinha apenas as aulas de datilografia
Para eu treinar e passar
Saudades de minha colega bonita
Que como diria o Lulu Santos
Também era a mais rica
E que nunca deu moral para mim
Nem mesmo para fazer política
Que saudade de minha infância querida!
Que os anos não trazem mais
Que ao invés de eu cuidar de criança
Eu era apenas mais uma a povoar um mundo cheio de esperança.

Juvan Pereira da Silva - IQ/UFG

Canção do nordestino

Meu nordeste tem cajueiros,
Onde os pássaros vivem a cantar.
As frutas que aqui tem,
Não tem como lá.

Nosso sol brilha mais,
Nossas praias são mais belas,
Nosso vento é mais intenso,
Nossas noites têm mais estrelas.

Fico a pensar à noite,
Na aurora da minha infância,
Meu nordeste tem cajueiros,
Onde os pássaros vivem a cantar.

Meu nordeste tem sabores,
Que cá não encontro lá,
Fico a pensar à noite,
Na aurora da minha infância,

Que Deus não permita eu viver,
Sem meu nordeste rever,
Sem desfrutar dos seus sabores,
Que cá não encontro lá
Onde os pássaros vivem a cantar.

Maria Aparecida de Almeida Silva - HC/UFG

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

S(C) em virtudes no semáfafo

Ontem, estive morto. Renasci esta madrugada, para matar-me novamente amanhã. Uma Fênix sem cinzas. Agora, exatamente agora, nego-me a dormir. Deixo o sono atormentar-me, até ludibriar minhas últimas resistências. Creio que a recusa em dormir esteja justificada por meu apego à noite. Como é bela a noite! Sempre preparando um novo dia, acalentando as ruas, reavivando as energias. Tudo para que, ao nascer do sol, as buzinas possam nos azucrinar. A noite quase não tem buzinas. Quando às ouço, consigo distingui-las facilmente. O dia é ensurdecedor... as buzinas são todas iguais... todas iguais.
Essa noite, já delirei com as aventuras dos embarcados no gra(n)ma, sonhei com as reviravoltas do lúmpen e duvidei dos lobos de Hobbes. Hoje, minha única esperança é achar a resposta em que não exista mais nenhuma esperança. Seria a confirmação de meus tormentos e minha certeza final em forma de dúvida. Em meu último cochilo, consegui compreender o cavalo Senador de Calígula, a inquietude de Sócrates e a contradição de Napoleão. Não sei se devo contar-lhes sobre essas coisas. Apaziguar a fúria da juventude é ser impiedoso com os que sonham. Não lhes jogarei água fria enquanto dormem, mas deixarei que acordem tarde e saiam sem lavar os rostos. Amanhã, terei um pouco mais de minha escravidão remunerada. Despertador, pão, café, ponto, ordem, desordem, ordem. Em verdade, não posso queixar-me do salário. Não que seja considerável. Não me resta tempo para que o gaste. Em nada adiantaria fosse muito. Ao anoitecer, mais uma daquelas aulas chatas que assisto há uns 20 anos consecutivos. Eles ensinam que todos são iguais, mas alguns são mais iguais que outros. Ensinam que devo-me acochambrar nas tetas do Estado e constituir uma família feliz, de preferência com uma loira de belos dentes. Ensinam o culto à vaidade. Alienados... creio já ter passado da idade. Vou-me embora e retomo contato com a noite. Acho que ficarei um pouco mais acordado, imaginando algo para acreditar.
Logo à minha frente vejo o semáforo de minha rua. Aparentemente ele é perfeito, exato, impessoal e democrático. Eu acredito no semáforo. Também acredito no elevador. Pensando bem, creio apenas no elevador, pois o semáforo é um pouco mentiroso... Ele inventa uma tal de luz laranja que não significa pare ou avance. Foge à lógica medial da virtude aristotélica. Caso minha afirmação fosse anátema, deveríamos aguardar sempre o sinal laranja para iniciar a travessia. Talvez seja apenas meu desânimo com o verde, ou minha frustração com o vermelho. Prefiro o preto, o lado escuro da lua. Na verdade, não existe lado escuro da lua. A lua é toda escura.
No meu prédio – que não é meu – admiro a imponência de 22 andares. Aperto o 11, que é o meu andar. Todas as noites, ao chegar em casa, obtenho a mesma conclusão. O elevador me conduz a um meio termo objetivo. Eu acredito no elevador!
Tiago Felipe de Oliveira - INF/UFG

A saga de uma macarronada

Tudo aconteceu quando entrei naquele ônibus, depois de um dia inteiro de trabalho. Já não estava tão bem, como no início do dia. No almoço, havia me deliciado com uma bela macarronada, mas exagerei um pouco no molho. Parecia que tinha criado vida no meu estômago. Ao subir, procurei, desesperadamente, um banco para descansar. Encontrei um disponível, somente na parte destinada a gestantes, idosos e deficientes. Por ironia do destino, o motorista era novato e corria um pouco mais que uma tartaruga. Comecei a suar mais que tampa de chaleira. Uma ânsia terrível. Sonhava com minha cama e um sonrisal. Para piorar, na parada seguinte, subiu uma senhora idosa, de bengala e veio para o meu rumo. Nossa! Torci tanto que alguém desse seu assento. Ninguém se manisfetou. E, como estava em seu território, tive que levantar, quase chorando. De repente, o motorista parece que olhou no relógio e começou a correr, feito um cavalo em disparada. O meu estômago já não aguentava mais. Eu, suando, quase desmaiando, e para completar a senhora usava um perfume fortíssimo, daqueles originais que se compra na feira hippie, misturado com sei lá, leite de rosas. Nossa, insuportável! Na parada seguinte, sobiu uma pessoa um tanto que familiar. Era tudo o que eu não queria: encontrar um conhecido. Era Fatinha, ex-colega de faculdade. Conversar era sua arte, falava mais que o homem da cobra. “Oi! Lembra de mim”, disse. Quase que não consegui responder. “E ai”, começou a conversar. Estava em outro mundo. Ela não parava. Meu Deus! Tentei falar que estava passando mal, porém não se importou e continuou a delongar. O ônibus já estava lotado. Calor. Barulho. Mau cheiro. Não deu outra. Como um vulcão em erupção e com os olhos marejados pelo suor, vi aquele meu almoço se espalhar por todo lado, até chegar ao motorista, que logo parou em meu ponto. Fatinha, horrorizada, inerte, assistiu tudo de camarote. Só assim ela se calou.
Vicente Daniel de Sousa Neto - IME/UFG

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Meus nove anos

Que saudade...
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que paz, que tranquilidade!
Brincadeiras na pracinha
Sem pressa de crescer, sem maldade!

Na escola, a disciplina
Era exigida pelas freiras
Oração antes do lanche
E o hino toda segunda-feira!

A biblioteca que encanto!
Tapete felpudo e almofadas
Estrelinhas penduradas no teto
Poesias, histórias, enciclopédias e contos!

Na rua, nada de carros e motos
Pique-esconde e pega-pega
Nas ladeiras e coretos
Entre laranjinhas, algodão-doce e pirulito!

Que saudade...
Da minha infância querida
Quando a inocência não era confundida
A responsabilidade não era exigida
E bolo de chocolate, felicidade!


Ludmilla Otaviana - IF/UFG

Bem-aventuranças do ser humano

Bem-aventurado o ser humano que erra!
Bem-aventurado o ser humano que pratica o perdão!
Bem-aventurado o ser humano que repudia a violência!
Bem-aventurado o ser humano que valoriza a amizade!
Bem-aventurado o ser humano que respeita a natureza!
Bem-aventurado o ser humano que admira a humildade!
Bem-aventurado o ser humano que compartilha o conhecimento!
Bem-aventurado o ser humano que se compadece com o sofrimento alheio!
Bem-aventurado o ser humano que ama a liberdade de ser humano!


Ludmilla Otaviana - IF/UFG

Bem-aventuranças do administrador

Bem-aventurado o administrador que se planeja!
Bem-aventurado o administrador que honra os seus valores!
Bem-aventurado o administrador que desenvolve as pessoas!
Bem-aventurado o administrador que organiza o seu trabalho!
Bem-aventurado o administrador que respeita o colega de trabalho!
Bem-aventurado o administrador que concretiza os prazos acordados!
Bem-aventurado o administrador que direciona os seus colaboradores!
Bem-aventurado o administrador que sabe gerenciar os conflitos da empresa!
Bem-aventurado o administrador que põe em prática a teoria que aprendeu na faculdade!
Bem-aventurado o administrador que gerencia a própria vida, lembrando-se da família e de Deus a todo o momento!


Aretuza Pereira Silva – FACE/UFG