quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Eterna inocência

Tudo começou, quando Manoel Passos de Castro, engenheiro agrônomo que graduou-se, com muita dificuldade, em 1952, tendo que deixar a capital de Goiás, cidade de sua família e buscar novos horizontes no Estado do Paraná, onde conheceu e se casou com a professora primária Adejair Souza de Castro.
Dessa união, nasceu Silnéa Victória, já em Goiânia. Primeira filha, primeira neta, primeira sobrinha. Ela era o centro das atenções de seus inexperientes tios goianos. As expectativas eram tantas que… demoraram a perceber o atraso em seu desenvolvimento mental em relação às demais crianças. Ao pronunciar suas primeiras palavras, mesmo que erradas, todos achavam muito engraçadinho, mas, com o passar do tempo e em idade escolar, a garota pronunciava café de ‘tafé’, carro de ‘tarro’ e, assim por diante. Algumas vezes, ficava irritada pelas inúmeras correções que lhe faziam. A frustração e a impaciência começaram a aparecer. Então, a família constatou, através de testes psicológicos, sua deficiência intelectual.
Os anos escolares para os colegas de Silnéa corriam normalmente; no entanto, os seus foram seguidos de reprovações e distorções idade/série. Repetiu mais de uma série, por várias vezes. Depois, os pais dela acharam que era hora de acompanhamento à parte. Nesse estágio da vida, deixava a infância (fase das descobertas) para a adolescência (fase de introspecção). Assim, contrataram professores particulares e foi necessário a mudança para uma escola com um ensino especial.
O ensino especial foi um marco em sua vida, com proposta de atividades lúdicas e diferenciadas. Ali, não só a menina, mas todos de sua família aprenderam a lidar com as limitações que ela apresentava. Diante disso, houve um grande avanço em seu desenvolvimento intelectual.
O esporte para o portador de necessidade especial, na vida dessa eterna inocência, já com 20 anos, foi uma atividade que lhe proporcionou um salto em sua independência, pois, antes dessa prática, não conseguia ir para a escola sozinha, atravessar uma rua movimentada (algo que lhe era apavorante,sem a presença de um adulto) e viajar para outra cidade. Ou seja, para qualquer lugar que a jovem ia, sempre estava acompanhada.
Hoje, com os seus 56 anos, Silnéa superou muito as nossas expectativas. Tem uma memória invejável, para decorar datas de aniversários, que até a chamamos de agenda ambulante. Sonha em fazer uma faculdade de direito ou agronomia; entretanto cursa ainda as séries iniciais da Educação de Jovens e Adulto (EJA), à noite.
Através do processo do ensino profissionalizante especial, Néia (como é chamada carinhosamente pela família e os mais íntimos) faz curso de auxiliar de cozinha pela manhã; já fez tapeçaria, relações interpessoais, informática, entre outros.
Gosta de ler, estudar, escrever, viajar, ir para a igreja, porém ainda continua na sua eterna inocência, cultivando alegria e esperança nos olhos dos adultos e no coração das crianças.

Silmara Epifânia de Castro Carvalho (Silepi) - IME/UFG

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