quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A saga de uma macarronada

Tudo aconteceu quando entrei naquele ônibus, depois de um dia inteiro de trabalho. Já não estava tão bem, como no início do dia. No almoço, havia me deliciado com uma bela macarronada, mas exagerei um pouco no molho. Parecia que tinha criado vida no meu estômago. Ao subir, procurei, desesperadamente, um banco para descansar. Encontrei um disponível, somente na parte destinada a gestantes, idosos e deficientes. Por ironia do destino, o motorista era novato e corria um pouco mais que uma tartaruga. Comecei a suar mais que tampa de chaleira. Uma ânsia terrível. Sonhava com minha cama e um sonrisal. Para piorar, na parada seguinte, subiu uma senhora idosa, de bengala e veio para o meu rumo. Nossa! Torci tanto que alguém desse seu assento. Ninguém se manisfetou. E, como estava em seu território, tive que levantar, quase chorando. De repente, o motorista parece que olhou no relógio e começou a correr, feito um cavalo em disparada. O meu estômago já não aguentava mais. Eu, suando, quase desmaiando, e para completar a senhora usava um perfume fortíssimo, daqueles originais que se compra na feira hippie, misturado com sei lá, leite de rosas. Nossa, insuportável! Na parada seguinte, sobiu uma pessoa um tanto que familiar. Era tudo o que eu não queria: encontrar um conhecido. Era Fatinha, ex-colega de faculdade. Conversar era sua arte, falava mais que o homem da cobra. “Oi! Lembra de mim”, disse. Quase que não consegui responder. “E ai”, começou a conversar. Estava em outro mundo. Ela não parava. Meu Deus! Tentei falar que estava passando mal, porém não se importou e continuou a delongar. O ônibus já estava lotado. Calor. Barulho. Mau cheiro. Não deu outra. Como um vulcão em erupção e com os olhos marejados pelo suor, vi aquele meu almoço se espalhar por todo lado, até chegar ao motorista, que logo parou em meu ponto. Fatinha, horrorizada, inerte, assistiu tudo de camarote. Só assim ela se calou.
Vicente Daniel de Sousa Neto - IME/UFG

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