quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Superação

Em 2003, sentado na beira do asfalto, fiquei imaginando como aquelas pessoas conseguiam comprar carrões e andar tão bem arrumadas todos os dias. Pensava que deviam ser muito especiais, ser altamente intelectuais ou até mesmo super-heróis e que eram extremamente felizes.
Nessa época, com 25 anos, trabalhava de gari, as pessoas nem percebiam minha existência, mesmo assim, sorria para aquelas que sem querer passavam o olhar em minha direção, principalmente as moças que faziam uma cara de nojo quando eu mandava beijinho para elas.
Naquele dia, resolvi que iria ser feliz, ganharia muito dinheiro, teria uma casa linda e um carrão na garagem. Mas, por onde começar? Ir para o exterior? Estudar? Virar dançarino? Apresentador? Sem dinheiro, nada podia fazer.
Vários dias se passaram e a angústia aumentava, tinha que tomar uma decisão. Aliás, que palavra que não me largou mais: decisão... sempre ela batendo em minha porta. Mas, o dia chegou, e resolvi que iria entrar na faculdade.
Minha família me perguntava o que faria com ‘isso’, como iria pagar, que eu seria motivo de gozação, mas pensei: pelo menos seria o centro das atenções.
Foram quatro anos e a única coisa que mudou foi o trabalho, pois entrei em um estágio. No início, feliz da vida, mas, depois, percebi que eles queriam apenas reduzir os custos com funcionários e que findo o prazo estaria desempregado.
Formatura maravilhosa, aula da saudade, muita festa, porém ainda era um simples auxiliar administrativo de uma empresa que dizia ter que cortar o almoço por causa da crise. E o pior ou melhor, não sei, ainda estava por vir, recebi a indagação de uma tia: “O que fazer com esse curso? Qual a sua intenção? Você é bem remunerado?”. Tipo assim, você ganha salário mínimo depois desse esforço todo.
Mais uma vez, vesti-me de gari. Naquele momento me sentia um lixo. Será que tinha desperdiçado todos aqueles anos? E agora, o que fazer? Tentar uma vaga como trainee? Estudar Inglês? Estudar para concurso? Hum, concurso! Parece ser uma boa opção.
Entrei em um cursinho, estudava todos os dias possíveis, sábado, domingo e feriados. Já era visita na casa dos meus pais, cortei amizades, namoro nem pensar. O isolamento era inevitável, tinha que resolver minha vida.
E, finalmente, consegui: passei em um concurso, comprei um carro novinho, coloquei o melhor som para tirar toda aquela aura de fracassado. Liguei a música no máximo; enfim, a vida perfeita.
Contudo, o tempo foi passando. Meus amigos se foram e não tem tempo para mim. Não tenho nada de especial. Inteligente estou, feliz nem tanto. Super-herói jamais serei e dentro de um carrão, com uma música triste ao fundo, pensando em tudo e, ao mesmo tempo, em nada, esperando o sinaleiro abrir e tentando enxergar o que tem por vir. De repente, olhei para o lado, um gari sorrindo...

Aretuza Pereira Silva - FACE-UFG

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